terça-feira, 28 de julho de 2015

Literatura Portuguesa - Realismo

Literatura Portuguesa - Realismo

Realismo
O Realismo quis criar uma arte que representasse objetivamente a realidade, que se ocupasse do homem e de seus problemas.
O Realismo surgiu como reação ao sentimentalismo exacerbado dos ultra-românticos e propunha a observação e análise rigorosa da realidade afim de retratá-la fiel e objetivamente. Iniciou-se em 1865 com a "Questão Coimbrã", em que se confrontaram as velhas ideias dos românticos com as da nova geração realista, e terminou em 1890 com a publicação de Oaristos de Eugênio de Castro. Esse período produziu poesia, prosa de ficção, jornalismo doutrinário, historiografia, crítica e historiografia literária.

Manifestações Artísticas
O primeiro quadro realista foi o Enterro em Ornans, do pintor francês Courbet. Socialista convicto, filho de camponeses, ele era antiburguês e queria pintar o mundo visível tal qual era sem o sentimento romântico, por isso deu espaço em seus quadros aos homens no trabalho.
Procurando renovar o material e as técnicas, tonto a arquitetura quanto a escultura insurgem-se contra o academicismo.

Literatura
As origens do realismo remontam à França, quando em 1857 Flaubert publicou o romance Madame Bovary, que conta a história de uma romântica jovem burguesa que termina em suicídio. A filosofia e a ciência da época incitam os escritores realistas a reproduzir integralmente o real. Para tanto opuseram ao excessivo sentimentalismo romântico o materialismo e o racionalismo; ao subjetivismo; o objetivismo; à fantasia e a imaginação, a observação; ao retorno à Idade Média, o comprometimento com o momento presente; ao nacionalismo, o universalismo.

Os realistas, em sua maioria republicanos e até os socialistas, são antimonárquicos, antiburgueses e anticlericais, traços presentes em suas obras.
A "Questão Coimbrã", de 1865, que marcou o início do Realismo, representou a primeira reação pública contra o Romantismo. Ela originou-se de uma carta posfácio de Antônio Feliciano de Castilho ao livro Poema da Mocidade do também romântico Pinheiro Chagas. Nesse texto, Castilho elogiava o livro de Pinheiro e criticava a nova poesia dos moços de Coimbra, sobretudo Teófilo Braga (que publicara Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras) e Antero de Quental (que publicara Odes Modernas).
Antero respondeu com uma carta aberta intitulada Bom Censo e Bom Gosto em que acusava Castilho (seu velho professor de francês) de obscurantismo, ao mesmo tempo que defendia a liberdade de pensamento e a independência dos jovens escritores.
Iniciada a polêmica, formaram-se dois partidos que publicaram algumas dezenas de pequenas obras defendendo ou criticando cada um dos lados. A vitória foi do grupo dos jovens de Coimbra, que em 1871, organizou o ciclo de Conferências Democráticas no Cassino Lisbonense. Das dez conferências, só cinco foram realizadas, pois um decreto real fechou o Cassino e proibiu as conferências sob a alegação que atacavam a religião e o Estado. No entanto a semente do Realismo fora lançada.

Produção Literária 

Poesia   
Antero de Quental (1842-1891)   
Ele foi o líder intelectual da geração de 1870 e divulgador das ideias socialistas em Portugal. Embora filho de ricos proprietários, depois da "Questão Coimbrã" trabalhou como operário em Paris. Em 1873, com a morte do pai, assumiu o comando das propriedades, vivendo em constante conflito. Suicidou-se em 1891. 
Ao lado de Camões e Bocage, Antero de Quental forma a trinca dos mais perfeitos sonetistas portugueses.
Gomes Leal (1848-1921) 
Sua obra dividi-se em três fases. Na primeira, sua poesia oscila entre o Romantismo e o Realismo, Claridades do Sul é o seu livro mais importante.  Na segunda fase, em O Anticristo, aceita o credo positivista e socialista. Seu terceiro momento caracteriza-se por uma postura mais simbolista, expressa O Fim dum Mundo.
Guerra Junqueiro (1850-1923)
Principal poeta panfletário do Realismo, criticou severamente a mentalidade burguesa. Em sua primeira fase lembra a poesia social de Victor Hugo: em A Morte de D. João retrata a corrupção da sociedade da época, em A Velhice do Padre Eterno critica a luxuria do clero. Na segunda fase, substituiu o cientificismo pela poesia lírica a serviço da salvação do homem. É desse período Os Simples.
Cesário Verde (1855-1886)
Sua poesia (que se preocupa com o apuro formal), ao mesmo tempo que transita entre o Romantismo e o Realismo, é uma ponte para atitudes que estarão em moda no Simbolismo e no Modernismo. Ele retratou de forma exata a realidade cotidiana das ruas de Lisboa.
Gonçalves Crespo (1846-1883)
Ele também filia-se à linha da poesia do cotidiano e destaca-se, sobretudo, pelo culto da forma, uma das principais características do Parnasianismo, que não vingou em Portugal, ao contrário da França e do Brasil.
Prosa
Eça de Queirós (1845-1900)
Eça de Queirós o melhor prosador do Realismo português, não participou da “Questão Coimbrã”, mantendo-se somente como espectador. No entanto, em 1871, nas conferências democráticas, apresentou o trabalho O Realismo como Expressão da Arte. No mesmo ano fundou com Ramalho Ortigão o jornal As Farpas, em que criticava o Romantismo e satirizava a sociedade portuguesa.

Realismo
      Questão Coimbrã: origem do Realismo.
      Iniciou-se com uma censura publicada no jornal a um grupo de jovens escritores exibicionistas que tratavam de temas que nada tinham de poesia.
      Principais autores do Realismo
- Guerra Junqueiro,
- Antero de Quental e
- Eça de Queirós.

O Realismo em Portugal (1865-1890)
Contexto Histórico-Social 
Uma grande polêmica travada nos jornais, conhecida como a Questão Coimbrã, em 1865, marca o início do Realismo em Portugal.
A “Questão” desenvolve um acalorado debate e troca de acusações entre os seguidores da escola romântica e os da escola realista.
Principais Autores e Obras do Realismo em Portugal
Prosa
Eça de Queirós: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio, Os Maias, A Relíquia, A Cidade e as Serras, O Mandarim, A Ilustre Casa de Ramires, O Mistério da Estrada de Cintra, A Capital, O Conde de Abranhos, Últimas Páginas, Alves e Cia.
Fialho de Almeida: A Cidade do Vício, O País das Uvas, Contos.
Poesia
Antero de Quental: Odes Modernas, Verso dos Vinte Anos, Sonetos Completos, Raios de Extinta Luz.
Gomes Leal: Claridades do Sul, O anti-Cristo, O Fim do Mundo.
Cesário Verde: O Livro de Cesário Verde.
Guerra Junqueiro: A Musa em Férias, Os Simples, A Velhice do Padre Eterno.
Algumas Características Desses Escritores
Eça de Queirós: um dos maiores prosadores da língua portuguesa combate as falhas das instituições, satiriza os costumes com sutileza e graça, num estilo fluente e de vigor narrativo.
Antero de Quental: optou pela poesia filosófica, indagadora das causas dos fenômenos da consciência e da existência.
Cesário Verde: é chamado O “Poeta do Cotidiano”, das coisas que permanecem insignificantes, comuns.
Guerra Junqueiro: começa como romântico e evolui para o Realismo.
Gomes Leal: tem uma poesia heterogênea, sarcástica, indagada e, na última fase, voltada contra as injustiças e a corrupção social.
Observe a maneira de se expressar de Eça de Queirós no texto São Cristovão extraído do livro Últimas Páginas:

São Cristovão
Cada vez mais escarpado, entre rochas, se
empinava o caminho da serra. E Cristovão, todo
curvado, com os seus cabelos caídos sobre a
face e pingando, arquejava a cada passo. Subiria
ele jamais até à morada do menino? E uma grande
dor batia-lhe o coração, no terror de cair sem
força e a criancinha ficar ali, naquele ermo
rude, entre as feras, sob a tormenta. A cada instante
tinha de arrimar a mão a mão rocha, desfalecido,
de se prender a ramagem dum abeto. E a
claridade crescia; já no alto dos montes, ele via
palidamente alvejar a neve.
▬ Ó meu menino, onde é a casa de teu pai?
▬ Mais longe, Cristovão, mais longe...
E aquele bom gigante, agasalhando os pés
Do menino da dobra da pele de cabra, que o vento
desmanchava, seguia com longos gemidos no
caminho infindável, que mais se apertava entre
rochas eriçadas de silvas enormes. Por fim, mal
podia passar; as pontas das rochas rasgavam-lhe
os braços, os longos espinhos, atravessados, levavam-lhe
a pele rude da face. E seguia! Já das
feridas lhe pingava o sangue, e os olhos embaciados
mal distinguiam o caminho, que parecia
oscilar todo como abalado num tremor de terra.
Uma luz, no entanto, mais viva, cor-de-rosa, já
Subia por trás das linhas dos cerros.
Mas Cristovão parou, sem poder mais. Com
O menino agarrado nos braços, ficou encostado a
Uma pedra, arquejando.
▬ Onde é a casa de teu pai?
▬ Mais longe, Cristovão, mais longe...
▬ Ó meu menino, onde é a casa de teu pai?
▬ Mais longe, Cristovão, mais longe...
Então o bom gigante fez um prodigioso esforço,
e a cada passo, meio desfalecido, os olhos turvos,
a cada instante lançando a mão para se arrimar, tropeçando,
com grossas gotas de suor que se misturavam a grossas
gotas de sangue, rompeu a caminhar, sempre para cima, sempre
para cima. Os seus pés iam ao acaso, no desfalecimento
que o tomava. Uma grande frialdade invadia todos os seus
membros. Já se sentia tão fraco como a criança que lavava aos
ombros. E parou, sem poder, no topo do monte. Era o fim: um
grande sol nascia, banhava toda a terra em luz. Cristovão pousou
o menino no chão, e caiu ao lado, estendendo as mãos. Ia
morrer. Mas sentiu suas grossas mãos presas nas do menino,
▬ e a terra faltou-lhe debaixo dos pés. Então entreabriu os
Olhos, e no esplendor incomparável reconheceu Jesus, Nosso
Senhor, pequenino como quando nasceu no curral, que docemente,
Através da minha manhã clara, o ia levando para o céu.
Eça de Queirós, Últimas Páginas.

Realismo (1865-1890)
Durante a segunda metade do século XIX, o pensamento científico e filosófico provoca uma mudança radical no comportamento da sociedade. Esse período era chamado de "novo século das luzes". O devaneio romântico e a idealização eram logo substituídos pela verdade. O artista começava a ver o mundo com os olhos da razão e segundo as teorias cientificistas, como tentativa de explicar aquilo que a religião deixava sem respostas. A realidade seria explicada pelas leis naturais.
Em Portugal, o Realismo surgiu a partir da Questão Coimbrã, marco inicial do Realismo. A Questão Coimbrã era uma forma de lutar contra a estagnação do circuito literário, que ainda seguia os preceitos românticos. Os coimbrãos, como eram chamados esses estudantes opostos a literatura que não condizia mais com a realidade vigente, chegaram até sequestrar o reitor da universidade para chamar a atenção para as suas discussões. Para agravar mais o fato, em 1865, Feliciano de Castilho, escritor do Romantismo português, envia uma carta ao seu editor criticando os jovens escritores realistas Antero de Quental, Vieira de Castro e Teófilo Braga, alegando que em seus trabalhos literários faltavam "bom senso e bom gosto". Antero de Quental respondeu a Feliciano de Castilho em um livreto intitulado "Bom Censo e Bom Gosto", que "A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V. Exa. Precisa menos Cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta anos de reflexão". O comentário no opúsculo acabou gerando polêmicas e discussões.

Destacam-se nesse período os poetas Guerra Junqueiro, Antero de Quental, Cesário Verde e Gomes Leal. Já na prosa, são significativos os trabalhos de Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão e, sem dúvida, a narrativa minuciosa e crítica de Eça de Queirós.


 Eça de Queirós, um dos melhores poetas do Realismo português.




Referências→ Escola Viva, Programa de Pesquisa e Apoio Escolar, O Tesouro do Estudante, Multimídia Multicolor 2003, Nível Fundamental e Médio. Ensino Global
Literaturas de Língua Portuguesa - Trovadorismo ao Modernismo
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa. Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Redação e Literatura / Marta Pontes. - São Paulo: DCL, 2010.
   

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