Literatura Portuguesa - Realismo
Realismo
O Realismo quis criar uma arte que representasse objetivamente a
realidade, que se ocupasse do homem e de seus problemas.
O Realismo surgiu como reação ao sentimentalismo exacerbado dos
ultra-românticos e propunha a observação e análise rigorosa da realidade afim
de retratá-la fiel e objetivamente. Iniciou-se em 1865 com a "Questão
Coimbrã", em que se confrontaram as velhas ideias dos românticos com as da
nova geração realista, e terminou em 1890 com a publicação de Oaristos de
Eugênio de Castro. Esse período produziu poesia, prosa de ficção, jornalismo
doutrinário, historiografia, crítica e historiografia literária.
Manifestações Artísticas
O primeiro quadro realista foi o Enterro em Ornans, do pintor francês
Courbet. Socialista convicto, filho de camponeses, ele era antiburguês e queria
pintar o mundo visível tal qual era sem o sentimento romântico, por isso deu
espaço em seus quadros aos homens no trabalho.
Procurando renovar o material e as técnicas, tonto a arquitetura quanto
a escultura insurgem-se contra o academicismo.
Literatura
As origens do realismo remontam à França, quando em 1857 Flaubert
publicou o romance Madame Bovary, que conta a história de uma romântica jovem
burguesa que termina em suicídio. A filosofia e a ciência da época incitam os
escritores realistas a reproduzir integralmente o real. Para tanto opuseram ao
excessivo sentimentalismo romântico o materialismo e o racionalismo; ao
subjetivismo; o objetivismo; à fantasia e a imaginação, a observação; ao
retorno à Idade Média, o comprometimento com o momento presente; ao
nacionalismo, o universalismo.
Os realistas, em sua maioria republicanos e até os socialistas, são
antimonárquicos, antiburgueses e anticlericais, traços presentes em suas obras.
A "Questão Coimbrã", de 1865, que marcou o início do Realismo,
representou a primeira reação pública contra o Romantismo. Ela originou-se de
uma carta posfácio de Antônio Feliciano de Castilho ao livro Poema da Mocidade
do também romântico Pinheiro Chagas. Nesse texto, Castilho elogiava o livro de
Pinheiro e criticava a nova poesia dos moços de Coimbra, sobretudo Teófilo
Braga (que publicara Visão dos Tempos e Tempestades Sonoras) e Antero de
Quental (que publicara Odes Modernas).
Antero respondeu com uma carta aberta intitulada Bom Censo e Bom Gosto em
que acusava Castilho (seu velho professor de francês) de obscurantismo, ao
mesmo tempo que defendia a liberdade de pensamento e a independência dos jovens
escritores.
Iniciada a polêmica, formaram-se dois partidos que publicaram algumas
dezenas de pequenas obras defendendo ou criticando cada um dos lados. A vitória
foi do grupo dos jovens de Coimbra, que em 1871, organizou o ciclo de
Conferências Democráticas no Cassino Lisbonense. Das dez conferências, só cinco
foram realizadas, pois um decreto real fechou o Cassino e proibiu as
conferências sob a alegação que atacavam a religião e o Estado. No entanto a
semente do Realismo fora lançada.
Produção Literária
Poesia
Antero de Quental (1842-1891)
Ele foi o líder intelectual da geração de 1870 e divulgador das ideias
socialistas em Portugal. Embora filho de ricos proprietários, depois da
"Questão Coimbrã" trabalhou como operário em Paris. Em 1873, com a
morte do pai, assumiu o comando das propriedades, vivendo em constante
conflito. Suicidou-se em 1891.
Ao lado de Camões e Bocage, Antero de Quental forma a trinca dos mais
perfeitos sonetistas portugueses.
Gomes Leal (1848-1921)
Sua obra dividi-se em três fases. Na primeira, sua
poesia oscila entre o Romantismo e o Realismo, Claridades do Sul é o seu livro
mais importante. Na segunda fase, em O
Anticristo, aceita o credo positivista e socialista. Seu terceiro momento
caracteriza-se por uma postura mais simbolista, expressa O Fim dum Mundo.
Guerra
Junqueiro (1850-1923)
Principal poeta panfletário do Realismo, criticou
severamente a mentalidade burguesa. Em sua primeira fase lembra a poesia social
de Victor Hugo: em A Morte de D. João retrata a corrupção da sociedade da
época, em A Velhice do Padre Eterno critica a luxuria do clero. Na segunda
fase, substituiu o cientificismo pela poesia lírica a serviço da salvação do
homem. É desse período Os Simples.
Cesário
Verde (1855-1886)
Sua poesia (que se preocupa com o apuro formal), ao
mesmo tempo que transita entre o Romantismo e o Realismo, é uma ponte para
atitudes que estarão em moda no Simbolismo e no Modernismo. Ele retratou de
forma exata a realidade cotidiana das ruas de Lisboa.
Gonçalves
Crespo (1846-1883)
Ele também filia-se à linha da poesia do cotidiano e
destaca-se, sobretudo, pelo culto da forma, uma das principais características
do Parnasianismo, que não vingou em Portugal, ao contrário da França e do
Brasil.
Prosa
Eça
de Queirós (1845-1900)
Eça de Queirós o melhor prosador do Realismo português,
não participou da “Questão Coimbrã”, mantendo-se somente como espectador. No
entanto, em 1871, nas conferências democráticas, apresentou o trabalho O
Realismo como Expressão da Arte. No mesmo ano fundou com Ramalho Ortigão o
jornal As Farpas, em que criticava o Romantismo e satirizava a sociedade
portuguesa.
Realismo
•
Questão
Coimbrã: origem do Realismo.
•
Iniciou-se
com uma censura publicada no jornal a um grupo de jovens escritores
exibicionistas que tratavam de temas que nada tinham de poesia.
•
Principais
autores do Realismo
-
Guerra Junqueiro,
-
Antero de Quental e
-
Eça de Queirós.
O
Realismo em Portugal (1865-1890)
Contexto
Histórico-Social
Uma grande polêmica travada nos jornais, conhecida
como a Questão Coimbrã, em 1865, marca o início do Realismo em Portugal.
A “Questão” desenvolve um acalorado debate e troca
de acusações entre os seguidores da escola romântica e os da escola realista.
Principais
Autores e Obras do Realismo em Portugal
Prosa
Eça
de Queirós: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio,
Os Maias, A Relíquia, A Cidade e as Serras, O Mandarim, A Ilustre Casa de
Ramires, O Mistério da Estrada de Cintra, A Capital, O Conde de Abranhos,
Últimas Páginas, Alves e Cia.
Fialho
de Almeida: A Cidade do Vício, O País das Uvas,
Contos.
Poesia
Antero
de Quental: Odes Modernas, Verso dos Vinte Anos,
Sonetos Completos, Raios de Extinta Luz.
Gomes
Leal: Claridades do Sul, O anti-Cristo, O Fim do Mundo.
Cesário
Verde: O Livro de Cesário Verde.
Guerra
Junqueiro: A Musa em Férias, Os Simples, A Velhice
do Padre Eterno.
Algumas
Características Desses Escritores
Eça
de Queirós: um dos maiores prosadores da língua
portuguesa combate as falhas das instituições, satiriza os costumes com
sutileza e graça, num estilo fluente e de vigor narrativo.
Antero
de Quental: optou pela poesia filosófica, indagadora
das causas dos fenômenos da consciência e da existência.
Cesário
Verde: é chamado O “Poeta do Cotidiano”, das coisas que
permanecem insignificantes, comuns.
Guerra
Junqueiro: começa como romântico e evolui para o
Realismo.
Gomes
Leal: tem uma poesia heterogênea, sarcástica, indagada e,
na última fase, voltada contra as injustiças e a corrupção social.
Observe a maneira de se expressar de Eça de Queirós
no texto São Cristovão extraído do livro Últimas Páginas:
São
Cristovão
Cada
vez mais escarpado, entre rochas, se
empinava
o caminho da serra. E Cristovão, todo
curvado,
com os seus cabelos caídos sobre a
face
e pingando, arquejava a cada passo. Subiria
ele
jamais até à morada do menino? E uma grande
dor
batia-lhe o coração, no terror de cair sem
força
e a criancinha ficar ali, naquele ermo
rude,
entre as feras, sob a tormenta. A cada instante
tinha
de arrimar a mão a mão rocha, desfalecido,
de
se prender a ramagem dum abeto. E a
claridade
crescia; já no alto dos montes, ele via
palidamente
alvejar a neve.
▬
Ó meu menino, onde é a casa de teu pai?
▬
Mais longe, Cristovão, mais longe...
E
aquele bom gigante, agasalhando os pés
Do
menino da dobra da pele de cabra, que o vento
desmanchava,
seguia com longos gemidos no
caminho
infindável, que mais se apertava entre
rochas
eriçadas de silvas enormes. Por fim, mal
podia
passar; as pontas das rochas rasgavam-lhe
os
braços, os longos espinhos, atravessados, levavam-lhe
a
pele rude da face. E seguia! Já das
feridas
lhe pingava o sangue, e os olhos embaciados
mal
distinguiam o caminho, que parecia
oscilar
todo como abalado num tremor de terra.
Uma
luz, no entanto, mais viva, cor-de-rosa, já
Subia
por trás das linhas dos cerros.
Mas
Cristovão parou, sem poder mais. Com
O
menino agarrado nos braços, ficou encostado a
Uma
pedra, arquejando.
▬
Onde é a casa de teu pai?
▬
Mais longe, Cristovão, mais longe...
▬
Ó meu menino, onde é a casa de teu pai?
▬
Mais longe, Cristovão, mais longe...
Então
o bom gigante fez um prodigioso esforço,
e
a cada passo, meio desfalecido, os olhos turvos,
a
cada instante lançando a mão para se arrimar, tropeçando,
com
grossas gotas de suor que se misturavam a grossas
gotas
de sangue, rompeu a caminhar, sempre para cima, sempre
para
cima. Os seus pés iam ao acaso, no desfalecimento
que
o tomava. Uma grande frialdade invadia todos os seus
membros.
Já se sentia tão fraco como a criança que lavava aos
ombros.
E parou, sem poder, no topo do monte. Era o fim: um
grande
sol nascia, banhava toda a terra em luz. Cristovão pousou
o
menino no chão, e caiu ao lado, estendendo as mãos. Ia
morrer.
Mas sentiu suas grossas mãos presas nas do menino,
▬
e a terra faltou-lhe debaixo dos pés. Então entreabriu os
Olhos,
e no esplendor incomparável reconheceu Jesus, Nosso
Senhor,
pequenino como quando nasceu no curral, que docemente,
Através
da minha manhã clara, o ia levando para o céu.
Eça de Queirós,
Últimas Páginas.
Realismo (1865-1890)
Durante a segunda metade do século XIX, o pensamento científico e
filosófico provoca uma mudança radical no comportamento da sociedade. Esse
período era chamado de "novo século das luzes". O devaneio romântico
e a idealização eram logo substituídos pela verdade. O artista começava a ver o
mundo com os olhos da razão e segundo as teorias cientificistas, como tentativa
de explicar aquilo que a religião deixava sem respostas. A realidade seria
explicada pelas leis naturais.
Em Portugal, o Realismo surgiu a partir da Questão Coimbrã, marco inicial
do Realismo. A Questão Coimbrã era uma forma de lutar contra a estagnação do
circuito literário, que ainda seguia os preceitos românticos. Os coimbrãos,
como eram chamados esses estudantes opostos a literatura que não condizia mais
com a realidade vigente, chegaram até sequestrar o reitor da universidade para
chamar a atenção para as suas discussões. Para agravar mais o fato, em 1865,
Feliciano de Castilho, escritor do Romantismo português, envia uma carta ao seu
editor criticando os jovens escritores realistas Antero de Quental, Vieira de
Castro e Teófilo Braga, alegando que em seus trabalhos literários faltavam
"bom senso e bom gosto". Antero de Quental respondeu a Feliciano de
Castilho em um livreto intitulado "Bom Censo e Bom Gosto", que
"A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança.
V. Exa. Precisa menos Cinquenta anos de idade, ou então mais cinquenta anos de
reflexão". O comentário no opúsculo acabou gerando polêmicas e discussões.
Destacam-se nesse período os poetas Guerra Junqueiro, Antero de
Quental, Cesário Verde e Gomes Leal. Já na prosa, são significativos os
trabalhos de Fialho de Almeida, Ramalho Ortigão e, sem dúvida, a narrativa
minuciosa e crítica de Eça de Queirós.
Referências→ Escola Viva, Programa de Pesquisa e Apoio Escolar, O Tesouro do Estudante, Multimídia Multicolor 2003, Nível Fundamental e Médio. Ensino Global
Literaturas de Língua Portuguesa - Trovadorismo ao Modernismo
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa. Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Redação e Literatura / Marta Pontes. - São Paulo: DCL, 2010.
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