quarta-feira, 15 de julho de 2015

Literatura Brasileira - Arcadismo

Literatura Brasileira - Arcadismo

Arcadismo

O Arcadismo iniciou-se em 1768 com a publicação em Portugal, de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, e com a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica. Esse período encerrou-se com a chegada da Família Real portuguesa ao Rio de Janeiro, em 1808, quando se iniciou o período de transição para o Romantismo.
Manifestações Artísticas 
O Neoclassicismo (o novo Classicismo, o retorno aos ideais renascentistas), baseado na visão científica e nas ideias racionalistas do Iluminismo, foi uma reação ao estilo extravagante do Barroco e representou um retorno à simplicidade, sobriedade, simetria e equilíbrio clássicos, que se refletiram na arquitetura e na escultura.
A pintura inspirou-se em temas históricos e na mitologia clássica.
No Brasil, curiosamente, embora fosse século XVIIII e a produção artística da época estivesse ligada aos ideais iluministas, assistiu-se ao desabrochar exuberante do Barroco, também chamado de Barroco brasileiro ou ainda Barroco mineiro. Em Ouro Preto (antiga Vila Rica) predominam esculturas em madeira e pedra-sabão do Aleijadinho e pintura de Manuel da Costa Ataíde. Na Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco, destacam-se a arquitetura e a ornamentação de algumas igrejas. Lobo de Mesquita e o padre José Maurício foram os principais compositores de música barroca sacra.
Literatura
O Arcadismo insurgiu-se contra os exageros do Barroco, produzindo uma poesia que retornou à simplicidade e equilíbrio clássicos e renascentistas. No Brasil, ocorreu um entrosamento acentuado entre vida intelectual e preocupações político-sociais: o selvagem foi valorizado, houve uma visão crítica da política colonial e um crescente nativismo. Pela primeira vez, desde o descobrimento, o momento histórico permitiu a existência de uma relação sistemática entre escritor, obra e público, preparando o campo para Era Nacional de nossa literatura.
Três foram os princípios básicos do Arcadismo:
a) fugere urbem (fugir da cidade): em busca do locus amoenus (lugar ameno, aprazível): o poeta volta-se para a natureza, para o campo à procura de uma vida simples, bucólica, longe dos centros urbanos) todos os nossos poetas árcades, foram urbanos, intelectuais e burgueses, daí falar-se em fingimento poético que se concretiza no uso de pseudônimos pastoris);   
b) carpe diem (aproveita o dia): máxima do poeta latino Horácio com a qual o poeta convida a aproveitar o momento presente (este também foi um dos temas preferidos do Barroco);
c) inutilia truncat (cortam-se as inutilidades): os árcades queriam cortar todos os excessos barrocos, por isso usavam palavras simples, períodos curtos e mais comparações que metáforas.

Produção Literária
Cláudio Manuel da Costa  (Glauceste Satúrnio) (1729-1789)
Costa (Cláudio Manuel da) ▬ Poeta e advogado brasileiro, nasceu na cidade de Mariana, no estado de Minas Gerais, em 1729. Estudou em Vila Rica, atual Ouro Preto, a seguir no Rio de Janeiro com os jesuítas e se formou-se em Direito na Universidade de Coimbra. Detido em 25 de maio de 1789, por sua participação na Conjuração Mineira, foi recolhido preso à Casa dos Contos, em Vila Rica, onde, a 2 de Julho desse mesmo ano, se suicidou.
Tomás Antônio Gonzaga (Dirceu) (1744-1810)
Gonzaga (Tomás Antônio) ▬ Nasceu na cidade do Porto, em Portugal, no ano de 1744, de pai brasileiro e mãe portuguesa, com os quais veio para o Brasil, em 1751. Estudou na Bahia com os jesuítas e formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, no ano de 1768. Com a idade de quarenta anos foi nomeado ouvidor de Vila Rica, hoje Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. Em Vila Rica conheceu Maria Doroteia de Seixas Brandão, de quem se fez noivo. Maria Doroteia passou a ser para Gonzaga, a Marília, amada do pastor Dirceu. Chegando ao conhecimento das autoridades que fazia parte da Conjuração Mineira, Gonzaga foi preso e remetido para o Rio de Janeiro, onde permaneceu encarcerado até 1792. A 23 de maio desse ano, foi degredado para a África, para degredado perpétuo. Faleceu o poeta em Moçambique no ano de 1810.
Santa Rita Durão (1722-1784)
Durão (Frei de Santa Rita) ▬ Nasceu em Minas Gerais no ano de 1722. Formado em Teologia pela Universidade de Coimbra. Viveu na Europa desde criança. Em 1781 fez publicar um poema épico denominado "Caramuru". O poema, em dez cantos, tem o mérito de ser o primeiro em assunto brasileiro publicado e nele Frei Durão relata as aventuras do náufrago português Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Obras: Sermões, Caramuru, Epítome. Frei Santa Rita Durão faleceu em 1784.
Basílio da Gama (Termindo Sipílio) (1740-1795)
Gama (Basílio da) ▬ Nasceu em São José do Rio das Mortes, hoje cidade de Tiradentes, no estado de Minas Gerais, no ano de 1740. Foi um poeta revolucionário na técnica do poema. Abandonou os preceitos clássicos camonianos. Obras: "Epitalâmio e alguns sonetos"; escreveu o poema épico "Uruguai", composição laudatória em cinco cantos. O assunto desse poema é a guerra que Portugal, ao lado da Espanha, moveu aos índios das Missões rebelados contra o tratado de 1750, que os transferia do domínio dos padres jesuítas para o dos portugueses. É considerada uma obra-prima e precursora do romantismo.
Alvarenga Peixoto (1744-1793)
Peixoto (José Inácio de Alvarenga) ▬ Poeta brasileiro da escola mineira. Nasceu no Rio de Janeiro, em 1744. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, no ano de 1767. Em 1776, nomeado ouvidor de São João Del Rei, Minas Gerais, regressou ao Brasil, aqui casando com a poetisa Bárbara Heliodora. Era amigo de Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Tomado de entusiasmo pela Conjuração Mineira, coube-lhe a escolha da divisa que seria posta na bandeira do estado de Minas Gerais atual, "Libertas quae sera tamen", descoberta a conjuração, foi o poeta recolhido à prisão de Vila Rica e daí removido para o Rio de Janeiro, onde, julgado e condenado à morte, teve comutada a sentença para o degredo perpétuo em Angola, na África. Alvarenga Peixoto deixou um drama em versos "Enéias no Lácio, e outras. Sua obra, coligida por Joaquim de Souza e Silva, foi publicada em Paris, no ano de 1765. Obras: Sonetos, Liras, Odes. Alvarenga Peixoto morreu no exílio, no ano de 1793.
Silva Alvarenga (1749-1814)
Alvarenga (Manuel Inácio da Silva) ▬ Nasceu em Vila Rica, hoje Ouro Preto, em Minas Gerais, no ano de 1749. Em Coimbra, para onde seguiu em 1771, formou-se em "Cânones". Quando estudante compôs um poema "O Desertor das Letras". Participou de diversas atividades literárias - peças de teatro, poesias, crítica, sempre com sucesso. Representante do grupo mineiro, foi considerado um dos mais suaves e festejados poetas do seu tempo. Faleceu no Rio de Janeiro, a 1º de Novembro de 1814.

Período de Transição
No início do século XIX, Portugal achava-se numa situação difícil: optar entre a dependência econômica inglesa e o poderio militar francês. Afugentada pelas tropas de Napoleão que invadiram Portugal no início do século XIX, a família real portuguesa chegou ao Brasil em 22 de Janeiro de 1808.
O Brasil, subitamente, elevado da condição de Colônia à Reino Unido de Portugal e Algarve e o Rio de Janeiro transformou-se em sede política, econômica e cultural da Monarquia.
Estava próxima nossa emancipação política, apressada pelas reformas de D. João VI. Ele remodelou a cidade do Rio de Janeiro e o Brasil começou a ganhar os contornos de uma nação.
A abertura dos portos brasileiros as "nações amigas" permitiu que circulassem novas ideias, gostos e hábitos. Fundaram-se escolas de ensino superior e academias, liberou-se a imprensa. Contratada por D. João VI, chegou ao Brasil, em 1816, a Missão Francesa com a tarefa de ensinar artes e ofícios aos brasileiros. O arquiteto Montigny, os escultores Auguste-Marie Taunay e Marc Ferrez, os pintores Nicolas Antoine Taunay e Jean-Baptiste Debret introduziram no Brasil o Neoclassicismo e inauguraram o gosto pelos temas históricos e nacionais (em oposição ao Barroco das igrejas). Com eles o Brasil ganhou imagem própria, distanciando-se da matriz. Em 1821, D. João VI voltou para Portugal e aqui ficou o príncipe regente D. Pedro, que proclamou nossa independência em 1822.
A literatura desse período, chamado também de Pré-Romantismo, caracterizou-se pela tentativa de abolir os modelos clássicos. No entanto, numa época em que ocorreram mudanças tão intensas em todos os setores da sociedade, floresceu uma poesia de segunda linha, uma poesia retórica, cujo objetivo era ensinar, persuadir, moralizar: o poema sacro, em que se destacaram Elói Ottoni, Sousa Castro e Américo Elísio (pseudônimo de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência).
Desenvolveram-se, também, nesse período os gêneros públicos: sermão, discurso, artigo e ensaio de jornal. Nesse último campo destacaram-se Hipólito da Costa Pereira, fundador do jornal Correio Brasiliense, e Evaristo da Veiga. Ambos foram indispensáveis para a formação e expansão de um público leitor no Brasil.
É na oratória, porém, que se pronuncia o Romantismo. Frei Monte Alverne, em seus sermões, funde à fé, ao sentimento religioso, as "harmonias da natureza" e as "glórias da pátria".
O Arcadismo no Brasil
Contexto Histórico-Social
A publicação de Obras Poéticas (1768), de Cláudio Manuel da Costa, constitui o marco inicial do Arcadismo no Brasil. Seu final é assinado pela publicação de Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães, que introduz o Romantismo.
A descoberta de ouro e sua intensa exploração afetaram a organização social e econômica da Colônia. Com a urbanização crescente, surgiram tipos de trabalho não-escravo, exercidos por profissionais liberais, artesãos e burocratas.
O pensamento liberal dominante na Europa chegou ao Brasil, notadamente junto ao grupo de intelectuais mineiros de Vila Rica (atual Ouro Preto).
Fizeram parte desse grupo:
Tomás Antônio Gonzaga
Cláudio Manuel da Costa
Alvarenga Peixoto
Basílio da Gama
Santa Rita Durão
Silva Alvarenga
Podemos dividir os árcades brasileiros em dois grupos: os líricos e os épicos.
Entre os líricos, sobressaem Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa; entre os épicos, destacam-se Basílio da Gama e Santa Rita Durão.
Poeta Lírico
Tomás Antônio Gonzaga
Tomás Antônio Gonzaga nasceu no Porto, em 1744. Veio para o Brasil com oito anos e foi matriculado no colégio dos jesuítas, na Bahia. Voltou mais tarde a Portugal, onde se formou em Direito, pela Universidade de Coimbra. De retorno ao Brasil, apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas. Maria Dorotéia é Marília e ele, Tomás Antônio Gonzaga, Dirceu. Por ter se participado da Inconfidência Mineira (1789), foi preso e condenado ao exílio em Moçambique, onde se casou com uma viúva rica e analfabeta. Famoso e rico, faleceu em 1810.
Obras: Liras e Cartas Chilenas.
Observe o bucolismo e o lirismo e a simplicidade da linguagem das estrofes no poema extraído da obra Liras.

Acaso são estes
os sítios famosos,
aonde passava
os anos gostosos?
São estes os prados,
Aonde brincava,
Enquanto pastava,
O manso rebanho
Que Alceu me deixou?
São estes os sítios?
São estes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

Daquele penhasco
Um rio caía;
Ao som do sussuro
Que vezes dormia!
Agora não cobrem
Espumas nevadas
As pedras quebradas:
Parece que o rio
O curso voltou.
São estes os sítios?
São estes; mas eu
O mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.
aqui um regato
corria sereno,
por margens cobertas
de flores e feno;
à esquerda se erguia
um bosque fechado;
e o tempo apressado,
que nada respeita,
já tudo mudou.
São estes os sítios?
São estes; mas eu
o mesmo não sou.
Marília, tu chamas?
Espera, que eu vou.

Arcadismo (1768-1836)
No século XVIII, chamado de "século das luzes", houve uma busca pela clareza, o equilíbrio e o uso maior da Razão. A ciência e a racionalidade eram responsáveis pela explicação do mundo.
Uma das correntes de pensamento que mais se destacou foi o Iluminismo, pensamento filosófico que se espalhou pela Inglaterra, França e Alemanha. Consiste na crença da razão como a fonte de todo o conhecimento válido. A publicação mais importante do Iluminismo foi a Enciclopédia, organizada por D'Alembert, Diderot e Voltaire, para condensar o conhecimento humano em um único lugar.
Dessa forma, o estilo Barroco vai se tornando ultrapassado, por representar o conflito, o desiquilíbrio. Buscava-se um estilo mais claro, mais simples, de acordo com as necessidades do homem da época, um estilo mais racional. Eis que surge o Arcadismo, para se rebater os excessos formais do Barroco. O nome Arcádia (de onde vem a palavra Arcadismo), segundo a lenda, dominada pelo Deus pã, representava uma província grega em que os pastores viviam de modo simples, se divertiam, cantavam, dançavam, fazendo disputas poéticas, celebrando o amor e o prazer. A primeira Arcádia surgiu em Roma, Itália, por volta de 1690, chegando a nosso país um pouco mais tarde.
O primeiro livro Árcade a ser publicado no Brasil foi Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768.
No estilo árcade, imitava-se o estilo renascentista, por ser considerado o modelo de perfeição, e ao mesmo tempo, valorizando a razão. Há também o bucolismo (valorização do campo, da natureza) do pastoralismo (busca da vida pastoril, simples) e a presença da mitologia. É muito comum nesse período o uso de pequenas máximas latinas que serviam de parâmetros para a arte perfeita a qual se almejava fugere urbem (fugir da cidade), inutilia truncat (cortar o inútil), carpe diem (colha o dia), Locus amoenus (lugar ameno), Aurea mediocritas (equilíbrio em ouro).
Em nosso pais, o Arcadismo (também chamado de Neoclassicismo) teve um aspecto singular, pois teve um papel importante de críticas ao governo durante a Inconfidência Mineira. Vários autores árcades foram inconfidentes e exilados ou mortos por isso.
Autores que mais se destacaram nesse período foram Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Santa Rita Durão. 


 Cláudio Manuel da Costa, poeta que fundou o Arcadismo no Brasil , em 1768.





Referências→ Escola Viva, Programa de Pesquisa e Apoio Escolar, O Tesouro do Estudante, Multimídia Multicolor 2003, Nível Fundamental e Médio, Ensino Global
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa. Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Redação e Literatura / Marta Pontes. - São Paulo: DCL, 2010.  


    

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