sexta-feira, 26 de junho de 2015

Literatura Brasileira - Barroco

Literatura Brasileira - Barroco

Barroco
As manifestações literárias do Barroco iniciaram-se com a publicação de Prosopopeia, de Bento Teixeira, em 1601, e encerraram-se, teórica e oficialmente, em 1768, com a fundação da Arcádia Ultramarina e a publicação de Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa. Em 1724, no entanto, a fundação da Academia Brasílica dos Esquecidos registrou o início de uma consciência grupal com a socialização do fenômeno literário, o que favorece o aparecimento do Arcadismo. No Barroco destacam-se Gregório de Matos Guerra e o Padre Antônio Vieira.

Manifestações Artísticas
O Barroco europeu, expressão artística da crise espiritual vivida pelo homem do século XVII, dividido entre a racionalidade e o antropocentrismo do Renascimento e a volta do teocentrismo e a espiritualidade medievais, caracterizou-se pela ostentação, cujo objetivo era impressionar e influenciar o receptor: a fé deveria ser atingida mais pelos sentidos e pela emoção do que pelo raciocínio. A arquitetura, a escultura e a pintura, frequentemente misturadas, perseguem esse fim usando de recursos como:
a) assimetria - o estilo é retorcido, opondo-se à assimetria e equilíbrio do Renascimento;
b) impressão de movimento - opondo-se à estaticidade clássica, são escolhidas as cenas de maior intensidade dramática (rostos contraídos pelo sofrimento ou pelo êxtase) para serem representadas pela escultura ou na pintura;
c) técnica do claro-escuro - na pintura, dá a sensação de profundidade.

No Brasil, embora o Barroco englobe as primeiras manifestações de arquitetura jesuítica do século XVI, sua forma mais exuberante, nas artes plásticas e arquitetura, só ocorreu no século XVIII, com as igrejas baianas e mineiras, com as estruturas de Aleijadinho, com as pinturas de Ataíde, com a música de Lobo Mesquita e José Maurício Nunes Garcia. O Barroco literário não coincidiu, portanto, com as outras manifestações culturais.

Produção Literária
O Barroco brasileiro foi fruto de manifestações isoladas visto que a Colônia ainda não dispunha de um grupo intercomunicamente de escritores, nem de um público leitor influente, nem de vida cultural intensa, situação agravada pela proibição da imprensa e pela falta de liberdade de expressão.
Reflexo da literatura escrita na Península Ibérica, a produção dessa época também revela a crise do homem do século XVII, dividido entre os valores antropocêntricos do Renascimento e as amarras do pensamento medieval reabilitado pela Contra-Reforma. Essa tensão manifesta-se no confronto pecado/perdão, terreno/celestial, vida/morte, amor platônico/amor carnal, fé/razão, céu/inferno.
Como as outras artes, a literatura empregou uma linguagem adequada à monumentalidade e à ostentação, exagerando no rebuscamento formal ao abusar de:
a) antíteses - que refletem a contradição do homem barroco, seu dualismo.
b) metáforas - que revelam as semelhanças subjetivas que o poeta descobre na realidade e a tentativa de aprendê-la pelos sentidos.
c) hipérboles - que traduzem a pompa, a grandiosidade do Barroco.
d) utilização frequente de interrogações - que revelam certeza e inconstância.
Há duas correntes barrocas em literatura:
a) cultismo - estilo marcado pelo rebuscamento formal que abusa de antíteses, paradoxos, hipérboles, jogos de palavras, ordem inversa. Essa tendência é também chamada de gongorismo, devido à influência do poeta espanhol Luís de Gôngora.
b) conceptismo - estilo desenvolvido sobretudo na prosa, preocupado em expor ideias e conceitos por meio do raciocínio lógico.

Alguns poetas:

Bento Teixeira (1560-1618) 
Com sua obra Prosopopeia, iniciou-se em 1601, o Barroco brasileiro. O poemeto é uma pálida imitação de Os Lusíadas e seu único objetivo era louvar Jorge Albuquerque Coelho, donatário da capitania de Pernambuco.

Gregório de Matos Guerra (1633-1696)
Importante poeta do Brasil colonial. Nasceu na Bahia em 20 de Dezembro de 1633. Estudou com os jesuítas e se formou em direito na universidade de Coimbra, em 1661. Sua obra poética permaneceu dispersa e manuscrita até os fins do século XIX. Em 1881 foi editada uma coletânea de suas sátiras, compostas quase sempre de improviso, as quais, não raro, descambam para uma grosseira licenciosidade. É considerado o maior satírico da literatura brasileira, incluindo-se também entre os mais notáveis líricos. Suas "Obras Completas" foram editadas pela Academia Brasileira de Letras - sob a direção de Afrânio Peixoto (1923-1939).

Manuel Botelho de Oliveira (1636-1711)
Brasileiro, estudou em Coimbra e foi amigo de Gregório de Matos. Publicou Música do Parnaso, uma coletânea de poemas escritos em português, castelhano, italiano e latim. Foi o primeiro poeta brasileiro a editar seus poemas. Dessa obra consta o poema "Ilha da Maré" em que se percebem traços de nativismo.
No período barroco aparecem entre nós as primeiras academias literárias centralizadas na Bahia: em 1724, é fundada a Academia Brasílica dos Esquecidos e, em 1759, a Academia Brasílica dos Renascidos. Elas foram importantes porque, além de intensificarem o sentimento nativista, representam a primeira tentativa de intercomunicabilidade literária (reuniram intelectuais e escritores e estabeleceram uma aproximação cultural entre os principais centros urbanos de então) e de contato com o público. As academias também fizeram um importante trabalho de pesquisa histórica. Sebastião da Rocha Pita, cujo pseudônimo era vago, pertenceu à Brasílica dos Esquecidos e escreveu História da América Portuguesa.  

O Barroco no Brasil (1601-1768)
Nota-se, na arte barroca, certa exuberância, excesso de ornamentos e detalhes, muitas vezes banhados a ouro. Os motivos são geralmente buscados na Bíblia e executados com marcas da influência da cultura mestiça colonial.
Contexto Histórico-Social
O Barroco no Brasil correspondeu à consolidação da aristocracia colonial brasileira, que resultou de uma série de eventos que marcaram a História do Brasil durante o século XVII e a primeira metade do século XVIII:
• As transformações sociais, econômicas e culturais, provocadas pelas invasões francesas e holandesas;
• O apogeu e o declínio da cana-de-açúcar no Nordeste;
• A ação dos bandeirantes e a descoberta do ouro, principalmente na região de Minas Gerais.
Costuma-se assinalar o início do Barroco no Brasil com a publicação do poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira (1601), e o seu final com a publicação de Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1768).
A poesia barroca atravessou três fases no Brasil.
fase: influencia de Camões nos poetas brasileiros. Principal representante: Bento Teixeira, com sua obra Prosopopeia.
2ª fase: começa a surgir uma poesia com características brasileiras.
Destaca-se o grupo brasileiro representado por Gregório de Matos Guerra, Eusébio de Matos, Domingos Barbosa, etc.
3ª fase: caracteriza-se pelo exagero e pelo aparecimento das academias literárias: Academia Brasílica dos Esquecidos, Academia dos Nobres, Academia dos Seletos, etc.
Pertencem a essa fase Manuel Botelho de Oliveira, Frei Manuel de Santa Maria Itaparica, etc.

Interior da igreja de São Francisco, Salvador, Bahia.

Gregório de Matos Guerra
Sem sombra de dúvida, a grande expressão do Barroco no Brasil foi Gregório de Matos Guerra. Nascido na Bahia, em 1633, faleceu no Recife, em 1696. Seus problemas refletem a sociedade brasileira da época.
Escreveu poemas satíricos, líricos e religiosos, mas foi como poeta satírico que granjeou grande fama.
Em suas poesias satíricas, Gregório de Matos critica o brasileiro explorado pelo colonizador, critica o próprio colonizador português, o clero e os costumes da sociedade baiana. Isso lhe valeu o apelido de "boca do inferno".

Observe a seguir, nos poemas de Gregório de Matos, o seu espírito crítico.

A cada canto um grande conselheiro,
Que nos quer governar cabana e vinha:
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro!

Em cada porta um bem frequente olheiro
Da vida do vizinho e da vizinha,
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha
Para o levar à praça e ao terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados,
Trazidos pelos pés aos homens nobres;
Posta nas palmas toda a picardia.

Estupendas usuras nos mercados:
Todos os que não furtam, muito pobres:
Eis aqui a cidade da Bahia.

O poema satiriza os fofoqueiros, ladrões e agiotas incompetentes. Procure identificá-los nos versos acima.

A Um Comedor Exagerado
Levou um livreiro a dente
De alface todo um canteiro,
E comeu, sendo livreiro
Desencadernadamente.
Porém, eu digo que mente
A quem disso o quer tachar;
Antes é para notar
Que trabalhou como um mouro,
Pois meter folhas no couro
Também é encadernar.

Em suas poesias líricas e religiosas, Gregório de Matos entra em conflito entre viver uma vida mundana e a procura pela fé, que salvaria sua alma.

Buscando A Cristo
A vós correndo vou, braços sagrados,
Nessa cruz sacrossanta descobertos,
Que, para receber-me, estais abertos,
E, por não castigar-me, estais cravados.

A vós divinos olhos, eclipsados,
De tanto sangue e lágrimas cobertos,
Pois para perdoar-me estais despertos,
E por não condenar-me estais fechados.

A vós, pregados pés por não deixar-me,
A vós, sangue vertido para ungir-me,
A vós cabeça baixa pra chamar-me;

A vós, lado patente, quero unir-me,
A vós, cravos preciosos, quero atar-me,
Para ficar unido, atado e firme.

Cabana e vinha: em casa e no trabalho.
Esquadrinha: examina minuciosamente.
Picardia: velhacaria.
Usuras: lucros exagerados.

Barroco (1601-1768)
Escola de origem italiana, o Barroco se inicia no Brasil com a publicação da obra Prosopopeia, de Bento Teixeira, em 1601.
O Barroco retrata bem o homem do período e os seus conflitos, ligados as contradições entre teocentrismo e antropocentrismo. O homem vivia o dualismo entre a fé e a razão, entre obedecer os dogmas da igreja e, ao mesmo tempo, desfrutar ao máximo os prazeres da vida. Há um conflito entre os valores teocêntricos que a Contra-Reforma tentou resgatar e os valores antropocêntricos vindos do Renascimento. Logo, a linguagem barroca refletira as sensações em excesso que o homem gostaria de experimentar e, ao mesmo tempo, as sensações existenciais e dúvidas não correspondidas nem pela fé e nem pela razão. Portanto, há o excesso de antíteses, paradoxos, metáforas, sinestesias, hipérboles e hipérbatos.  
No Barroco, como recurso reflexivo, há o jogo de contrastes entre o claro (representando o céu, a luz, a salvação) e o escuro (representando o medo, o inferno, o pecado). Ainda dentro da possibilidade de reflexão e contradição, os autores se utilizam de dois estilos: conceptismo (raciocínio, jogo de ideias muitas vezes contraditórias) e o cultismo (valorização da forma e abuso de metáforas e outros recursos estilísticos).
Destacam-se os autores Gregório de Matos e o Padre Antônio Vieira (estudado tanto como autor português e brasileiro).



Referências→ Escola Viva, Programa de Pesquisa e Apoio Apoio Escolar. O Tesouro do Estudante. Multimídia Multicolor 2003. Nível Fundamental e Médio. Ensino Global.
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa. Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Redação e Literatura / Marta Pontes - São Paulo: DCL, 2010.
  

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