domingo, 7 de junho de 2015

Literatura Portuguesa - Barroco

Literatura Portuguesa - Barroco

Barroco
O Barroco ou Seiscentismo tem início em 1580, ano que, além de marcar a morte de Camões, marca a passagem de Portugal pelo domínio espanhol; e termina em 1756, quando é fundada a Arcádia Lusitana. Nesse movimento, que vai caracteriza-se pela tensão e tentativa de fusão dos opostos, desenvolveram-se a oratória, a prosa doutrinária, a poesia, a historiografia, a epistolografia e o teatro.

Contexto Histórico
O século XVII assistiu profundas alterações  no quadro político, econômico, social, religioso e artístico da Europa em função de vários fatores:
a) Formação de estados absolutistas: o poder político foi fortemente centralizado na figura do rei (que se confundia com o próprio Estado). Esse sistema respondia as necessidades da burguesia, que precisava de um poder conservador para garantir as condições de mercado. Era a derrocada final do Feudalismo. 
b) Revolução Comercial: O mercantilismo exigia a ampliação de mercados fornecedores e consumidores. A circulação de mercadorias era a principal fonte de acumulação de capitais, representada na Espanha pela exploração de metais preciosos das colônias.
c) Ascensão econômica da burguesia: No século XVII, embora economicamente dominante, a burguesia ainda era politicamente submetida.
d) Contra-Reforma: Consequência da Reforma protestante (1517), ela foi a reação da igreja católica para conter a expansão do protestantismo. A Contra-Reforma propunha a volta ao teocentrismo (fé irrestrita na autoridade da igreja), abolindo o individualismo religioso do Renascimento. A Companhia de Jesus, criada pelo espanhol Inácio de Loiola em 1540, foi a arma usada pela igreja para manter e recuperar fiéis. Os jesuítas monopolizaram a educação para difundir a igreja católica. O Concílio de Trento (1545-1563) fortaleceu o tribunal do Santo Ofício da inquisição que, não só reprimiu todas as tentativas de manifestações científicas, culturais e religiosas contrarias à igreja Católica, como também controlou a produção literária através da censura.
A Península Ibérica, berço da Contra-Reforma, esteve afastada de toda a efervescência cultural dos países onde a Reforma se consolidara e onde desenvolveram a ciência mecânica e o mercantilismo moderno (Newton, Descartes, Galileu, Copérnico, Kepler).
Depois do desaparecimento de D, Sebastião na batalha Alcácer-Quibir, Portugal, em 1580, caiu sob o domínio espanhol. Muitos escritores portugueses foram para Espanha (onde viviam Gôngora, Cervantes, Lope de Vega, Calderón), outros passaram a escrever em castelhano. Só em 1640 com a Restauração (movimento português de independência financiado pela burguesia e pelos cristãos-novos), a cultura portuguesa romperia o isolamento e seria influenciada, principalmente, pela literatura francesa.

Manifestações Artísticas
O homem desse período foi marcado pela tensão da dualidade: de um lado a afirmação de um racionalismo renascentista antropocêntrico e, de outro, o retorno dos valores espirituais da teocêntrica Idade Média. A arte foi uma das armas mais  eficazes da Contra-Reforma para provocar e influenciar as emoções. Havia na obra dos jesuítas, que se empenhavam em recuperar hegeres e consolidar a fé dos cristãos, o desejo contínuo de dominar e impressionar a todo custo.
O Barroco caracteriza-se pelo movimento, pela tentativa de sugerir o infinito, pelos contrastes, pela audaciosa mistura da arquitetura, pintura e escultura. Ele é exuberante na riqueza de detalhes, teatral e dramático, pois escolhe os momentos de dor e comoção para impressionar os sentidos.

Literatura
A literatura também refletiu esse momento de tensão vivido pelo homem do barroco. Como as outras artes, empregou uma linguagem adequada à monumentalidade e à ostentação, exagerando no rebuscamento formal ao abusar de antíteses (que refletem a contradição do homem barroco, seu feudalismo), de metáforas (que enfatizam a apreensão da realidade pelos sentidos e de hipérboles (que traduzem a pompa, a grandiosidade do Barroco).
Há duas correntes barrocas em literatura:
a) Cultismo: Consiste na supervalorização da forma, emprego de linguagem rebuscada, culta, extravagante, que abusa de trocadilhos. É também chamada de gongorismo porque nele é clara a influência do poeta espanhol Luís de Gongora (1561-1627).
b) Conceptismo: Que ocorre sobretudo na prosa e torna a literatura um jogo retórico de ideias, de conceitos, por meio do raciocínio e da lógica. Nesse trecho do Sermão da Sexagésima, Vieira por meio de ideias logicamente estruturadas, discute a sutil ideia entre o substantivo (nome) e a ação, a única que pode transformar, converter o mundo.

Alguns Poetas:
Padre Antônio Vieira (1608-1697)
É o autor de "Os Sermões", obra notável, produzida para a posteridade, trabalho capital da literatura do século XVII. Veio para o Brasil com seus pais, com a idade de sete anos. Estudou com os jesuítas, fazendo o noviciado durante três anos na Companhia de Jesus. Esteve na Europa até 1681, quando voltou a Bahia, onde faleceu em 1697. Nasceu em Lisboa em 1608. Um dia, ao rezar, teria sentido forte abalo cerebral, o popular "estado do padre Vieira". Em muitos dos seus sermões, pregou violentamente contra os senhores da terra que violentavam os índios.

Francisco Rodrigues Lobo (1580-1621)
Foi um dos escritores que mais se destacaram na formação do estilo barroco na Península. Quase todos os textos são em castelhano, demonstrando a influência de Gôngora. Em Corte na Aldeia faz uma espécie de teoria do Barroco.

D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666)
Sua obra compreende poesia, historiografia, teatro, biografia, literatura moralista e epistolografia. Sua poesia é gongórica, mas revela influências clássicas de Camões e Sá de Miranda. Como historiador, relatou fatos que viveu (teve uma vida bastante agitada e variada a que não faltaram crime passional, degredo, carreira diplomática). Sua intenção é oferecer ensinamentos práticos para militares e diplomatas. Seguindo a linha do teatro vicentino, escreveu a comédia Auto do Fidalgo Aprendiz em que relata o burguês que quer afidalgar-se. As cartas, de tom conservador, têm um caráter moralista e doutrinário. Destacam-se Cartas Familiares e Carta de Guia dos Casados.

Padre Manuel Bernardes (1644-1710)
Nova Floresta é sua obra mais conhecida. Nela Bernardes recorre a um processo didático de organizar alfabeticamente virtudes e pecados e contar ou dar um exemplo para ser compreendido pelo leitor.

Antônio José da Silva "o judeu" (1705-1739)
Depois de Gil Vicente, o teatro entrou em decadência em Portugal. Foi preciso esperar até o Barroco para que Antônio José da Silva alterasse esse quadro.
Brasileiro, de uma família de cristãos-novos, aos oito anos foi para Lisboa.
Acusando-o de judaísmo, a Inquisição o condena a morrer degolado e queimado.
Suas comédias, nas quais utilizava bonecos (títeres ou marionetes), eram por ele chamadas de óperas, pois se faziam acompanhar de música e canto. Ele sofreu influência de Gil Vicente, da comédia clássica e do teatro francês, italiano e espanhol da época. A grande inovação foi ter escrito suas peças em prosa. Guerras do Alecrim e Manjerona é sua obra mais conhecida.

Sóror Mariana Alcoforado (1640-1723)
Religiosa portuguesa apaixonada por um general francês que serviu em Portugal, Sóror Mariana revela em suas Cartas Portuguesas a bipolaridade barroca: o aspecto racional (que lhe diz para esquecer o amante) e a súplica sentimental para que ele volte.

Frei Luís de Sousa (1555-1632)
Sua obra mais brilhante é Vida de Frei Bartolomeu dos Mártires. Ele ficou famoso, no entanto, pelos lances trágicos que deram vida ao romântico Almeida Garrett para a peça Frei Luís de Sousa.
Manuel de Sousa Coutinho (nome de batismo) casou-se com D. Madalena Vilhena, viúva de D. João de Portugal, supostamente morto na batalha de Alcácer-Quibir, e tiveram uma filha. No entanto D. João volta a Portugal e a filha do casal morre, o que é visto como castigo pelo casamento adúltero. Manuel e Madalena decidem, então, entrar para o convento.

O Barroco em Portugal (1580-1756)
A palavra barroco designa, de modo geral, as várias manifestações artísticas do século XVII e início do século XVIII: na arquitetura, na literatura, na música, na escultura, etc. Suas características são:
Nas Artes Em Geral
• valorização do espiritual (o classicismo anterior revalorizou os ideais pagãos);
• exagero de detalhes, cores vivas;
• jogo de sombras e de luzes;
• linhas diagonais, curvas e assimétricas;

Na Literatura
a) Quanto a escolha dos temas o Barroco preocupou-se com: a brevidade da vida, o pessimismo perante a vida, a morte, a religião como alívio para as angústias.
b) Quanto à linguagem, é frequentemente no Barroco o emprego de:
• antíteses;
• comparações;
• trocadilhos e inversões;
• metáforas;
• frases interrogativas;
• vocabulário elevado e rico;
• gradação de palavras;
• repetições constantes;
• dubiedade de sentidos (ambiguidade, duplo sentido).

Principais Autores Portugueses
Os principais autores portugueses são: Padre Antônio Vieira, Francisco Manuel de Melo, Francisco Rodrigues Lobo, Antônio Josué da Silva (o judeu), Sóror Mariana Alcoforado e Padre Manuel Bernardes.
O mais representativo deles foi o Padre Antônio Vieira, que pertenceu tanto ao Barroco português quanto ao Barroco brasileiro. É, na prosa, a figura barroca mais eminente.
Padre Antônio Vieira
O Padre Antônio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e faleceu na Bahia, em 1697.
São obras suas: História do futuro, Esperanças de Portugal, cerca de 500 cartas e os famosos Sermões (cerca de 200). Nos Sermões, Vieira abandona vários assuntos: a questão dos índios escravizados (Sermão de Santo Antônio), a invasão holandesa no Brasil, em 1640, a arte de pregar, a política, problemas sociais, etc.
Participou ativamente dos problemas sociais da sua época, colocou-se contra os colonos que escravizavam os índios, defendeu os judeus, lutou contra a inquisição, exerceu funções diplomáticas no estrangeiro.
Ninguém melhor para traçar o retrato de Vieira do que um dos maiores escritores de Portugal, Eça de Queirós:

A sua existência foi uma das mais ativas
e ilustres do seu tempo. Grande pregador,
grande político, grande escritor, missionário,
grande colonizador, esteve envolvido nos
maiores negócios, tratou com os maiores personagens
e trabalhou pelas maiores ideias da sua época.
Os seus magníficos Sermões arrebatavam
tanto a gente inculta do Brasil, como encantavam
em Roma o Sábio e requintado mundo
dos Prelados romanos. A sua forma estendeu-se
por toda a Europa. Depois de ser confidente
dos reis e dos papas, de ter conhecido
as grandezas do mundo e as do alto saber, 
morreu com a pobreza e a simplicidade
de um místico na capital da Bahia.

Vamos conhecer agora um texto de Vieira. 

A Guerra
É a guerra aquele monstro que se sustenta
das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto 
mais come e consome, tanto menos se farta.
É a guerra aquela tempestade terrestre, que
leva os campos, as casas, as vidas, os castelos,
as cidades, e talvez em um momento sorve os 
reinos e as monarquias inteiras. É a guerra aquela 
calamidade composta de todas as calamidades,
em que não há mal algum que, ou se não 
padeça, ou se não tema; nem bem 
que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro, 
O rico não tem segura a fazenda, o pobre 
não tem seguro o seu amor, o nobre não 
tem segura a honra, o eclesiástico não tem 
segura a imunidade, o religioso não tem 
segura a sua cela; e até Deus nos templos 
                               e nos sacrários não está seguro.                       Sermões.

Barroco (1580-1756)
Portugal do século XVI sofria com o domínio espanhol e, aos poucos, tentavam buscar a sua autonomia política para desenvolver com autonomia atividades econômicas e culturais. Esse período ficou conhecido como "processo de restauração". Influenciados pelo gongorismo (excesso de palavras) e o maneirismo (tentativa de imitar o estilo de algum autor), predomina uma literatura, com raras exceções, de qualidade duvidosa, sem muita inspiração. Surgem muitas academias literárias, lugares de discussões e divulgação de ideias culturais. Destacam-se nesse período Dom Francisco Manuel de Melo (poesia), Padre Antônio Vieira (sermões), Padre Antônio Bernardes (anedotas e lendas).
O Barroco tem como característica o excesso de figuras de linguagem (cultismo), o jogo de ideias (conceptismo), a dualidade ente a fé e a razão, o jogo do claro e o escuro (especialmente nas artes plásticas), o exagero de metáforas, hipérboles e hipérbatos.


 Padre Antônio Vieira (1608-1697)




 Barroco (1580 e 1756)

Europa como centro do mundo. 
Decadência Portuguesa. Integração de Portugal a Espanha (1580). Sebastianismo.
Crise religiosa – Reforma Protestante.
Aspecto profano do humanismo e aparente estabilidade das estruturas sociais.
Busca pela perfeição formal e o rebuscamento.
Padre Antônio Vieira: sermões = cunho moral. O conflito entre matéria e espírito.


Pe. Antônio Vieira
“mestre em oratória”.
Sermão da Sexagésima

“Para quem lavra com Deus até
o sair é semear, porque também das passadas colhe fruto. Entre
os semeadores do Evangelho há uns que saem a semear, há outros
que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão
pregar à Índia, à China, ao Japão; os que semeiam sem sair, são
os que se contentam com pregar na Pátria. Todos terão sua razão,
mas tudo tem sua conta. Aos que têm a seara em casa,
pagar-lhes-ão a semeadura; aos que vão buscar a seara tão longe, 
hão-lhes de medir a semeadura e hão-lhes de contar os passos. Ah
Dia do Juízo! Ah pregadores! Os de cá, achar-vos-eis com mais paço; os de lá, com mais
passos: Exiit seminare.


Referências→ Escola Viva, Programa de Pesquisa e Apoio Escolar, O Tesouro do Estudante, Multimídia Multicolor 2003, Nível Médio e Fundamental. Ensino Global
Literaturas de Língua Portuguesa. Trovadorismo ao Modernismo
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa - Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Redação e Literatura / Marta Pontes - São Paulo: DCL, 2010.

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