Literatura Brasileira - Modernismo
MODERNISMO
Semana de Arte Moderna
O Modernismo iniciou-se com a Semana de Arte Moderna, nos dias 13, 15 e 17 de Fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Nela se apresentaram sob vaias, assobios e muita algazarra, escritores, pintores, escultores, arquitetos e músicos que pretendiam não só "assustar a burguesia que cochila na glória de seus lucros", mas também propagar novas tendências artísticas europeias para colocar a cultura brasileira em sintonia com elas.
Vanguarda Europeia
A rápida industrialização da Europa, com a introdução da máquina no cotidiano, o surgimento dos transportes modernos (carro, avião) e dos meios de comunicação de massa (rádio, cinema), transformou o mundo e o modo de vida das pessoas.
Na estética, diversas influências refletiram esse momento e influenciaram mais tarde nosso Modernismo: Futurismo, Expressionismo, Cubismo e Surrealismo.
Futurismo
"Um carro em movimento é mais belo que a vitória de Samotrácia", dizia Marinetti, o fundador, em 1909, do Futurismo. Essa estética celebra os signos do novo mundo, a velocidade, a máquina, a eletricidade, a industrialização. Apregoando a questão do passado e dos meios tradicionais de expressão literária, o Futurismo (tendência que mais mais influenciou a primeira fase do Modernismo) propunha:
- Liberdade de Expressão;
- Destruição da sintaxe;
- Abolição da pontuação;
- Uso de símbolos matemáticos e musicais;
- Desprezo ao adjetivo e ao advérbio.
Expressionismo
Surgido em 1910, foi representação de povos nórdicos, germânicos e eslavos. Essa tendência apressou o período anterior à Primeira Guerra Mundial, voltando-se para os produtos artísticos dos primitivos e para as manifestações do mundo interior, expressas no uso aleatório de cores intensas e distorção das formas, como atesta o quadro O Grito, do Norueguês Edvard Munch.
O Expressionismo influenciou sobretudo os quadros de Anita Malfatti.
Cubismo
Em 1907, Pablo Picasso pintou Les Demoiseilles d'Avignon (As senhoras de Avignon e inaugurou o Cubismo).
Segundo essa tendência, as figuras reduzidas as formas geométricas, apresentam ao mesmo tempo, o perfil e a frente, mostrando mais de um ângulo de visão. No Brasil, Vicente do Rego Monteiro e Antônio Gomide pintaram quadros cubistas.
A literatura cubista, inaugurada por Apollinaire, preocupou-se com a construção física do texto: valorizou o espaço da folha e a camada significante das palavras e negou a estrofe, a rima, o verso tradicional. Esse seria o embrião da nossa poesia concreta, da década de 50.
Dadaísmo
Este foi o mais radical e destruidor movimento da vanguarda europeia. Fundado por Tristan Tzara, negava o presente, o passado, o futuro e defendia a ideia de que qualquer combinação inusitada promove um efeito estético. O Dadaísmo refletiu um sentimento de saturação cultural de crise social e política.
Surrealismo
Inaugurado com a publicação do Manifesto Surrealista, em 1924, este foi o último movimento da vanguarda. Sofrendo influência das teorias de Freud, o Surrealismo caracterizou-se pela busca do homem primitivo por meio da investigação do mundo do inconsciente e dos sonhos. Na literatura, o traço fundamental foi a escrita automática (o autor deixa-se levar pelo impulso e registra sem controle racional, tudo aquilo que o inconsciente lhe ditar, sem se preocupar com a lógica.
Salvador Dali destacou-se como um dos pintores surrealistas europeus; no Brasil, Ismael Nery.
Divulgação das Ideias da Semana
Uma série de revistas, grupos e manifestos divulgou o resultado da semana por todo o país. Em 1922, surgiu a revista Klaxon, especializada em arte, que apresentou a primeira temática de sistematizar os novos ideais estéticos. Já nesse momento delineou-se uma cisão no grupo dos modernistas, resultado de orientações políticas diferentes: de um lado, artistas marcados pela ideologia marxista pregavam a destruição do passado; outros, alinhados à estrema direita, aceitavam o passado como o ponto de partida para o novo.
Destacaram-se as seguintes correntes que produziram revistas e manifestos:
a)Corrente primitivista: criada em São Paulo, elegeu como tema motivos primitivos nacionais, índio, descoberta do Brasil, período colonial.
- 1924- Manifesto Pau-Brasil: de Oswald de Andrade prega uma poesia voltada para a realidade brasileira, sem importação de fórmulas ou temas estrangeiros.
- 1928 - Revista Antropofagia (que teve duas fases ou "dentições"): dela participaram Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Calos Drummond, Alcântara Machado, Tarsila do Amaral, entre outros. Continua as ideias do Pau-Brasil. Propondo um retorno aos costumes primitivos, pregam "a aceitação não passiva, sob a forma de uma devoração crítica, da contribuição europeia, e sua transformação num novo produto, dotado de valores próprios".
b) Corrente nacionalista: criada também em São Paulo, defende os motivos folclóricos e indígenas, mas não nega a tradição, sobre a qual, segundo seus poetas, deveria fundar-se a nova literatura.
- 1926 - Verde-Amarelismo: movimento formado por Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, surge como reação ao Pau-Brasil. Ufanista, o movimento identifica-se como facismo.
- 1927 - Grupo Verde-Amarelo: elege a anta como símbolo nacional e passa a chamar-se Grupo (ou Escola) da Anta. Em 1929, surge o Nhengaçu Verde-Amarelo, manifesto do Grupo da Anta.
- 1926 - O Centro Regionalista de Recife: inspirado por Gilberto Freire e José Lins do Rego, dá origem ao ciclo nordestino de ficção.
c) Corrente espiritualista: centrada no Rio de Janeiro, tentou imprimir um caráter espiritualista ao Modernismo, defendendo a tradição. Na tentativa de conciliar presente e passado, valorizou a estática simbolista.
- 1927 - Revista Festa: fundada por Tasso da Silveira, tinha entre seus colaboradores Cecília Meireles e Murilo Mendes.
- 1924 - Estética: Rio de Janeiro.
- 1925 - A Revista: Minas Gerais, tinha Carlos Drummond entre seus redatores.
- 1926 - Terra Roxa e Outras Terras: São Paulo.
- 1927 - Revista Verde de Cataguases: Minas Gerais.
Primeira Fase do Modernismo (1922-1930)
A primeira fase do Modernismo, também chamada de heróica foi a que mais combateu a tradição, marcou-se por intensa tradição em poesia cujas características foram:
• utilização do verso livre;
• procura de uma língua "brasileira",
privilegiando por isso a linguagem coloquial;
• uso de linguagem telegráfica, condensada;
• ausência de pontuação;
• tematização da própria linguagem (metalinguagem);
• valorização do cotidiano;
• incorporação do presente;
• uso de paródias, com o sentido de dessacralizar a tradição;
• uso de humor (poema piada);
• criação de neologismos;
• aproximação da linguagem da prosa.
Produção Literária
Mário de Andrade ( 1893-1945)
Andrade (Mário de) ▬ Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo a 09 de Outubro de 1893. Diplomado em piano pelo Conservatério Dramático e Musical de São Paulo, onde foi também professor de estética e história da música. Publicou em 1917, o livro "Há uma Gota de Sangue em cada Poema". Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna. A partir daí, Mário de Andrade se tornou a principal figura do Movimento Modernista. Escreveu: "Pauliceia Desvairada", ensaio; "A Escrava que não é Isaura", e ainda "Losango Caqui", poesia e "Primeiro Amor", "Amar Verbo Intransitivo", romance. Em 1928, lançou "Macunaíma". Mário de Andrade faleceu em São Paulo em 25 de Fevereiro de 1945.
Oswald de Andrade (1890-1954)
Andrade (Oswald de) ▬ José Oswald de Sousa Andrade, poeta e prosador brasileiro, nasceu em São Paulo a 11 de Janeiro de 1890. Formou-se em direito no ano de 1919. Participou com entusiasmo da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, tornando-se mesmo um dos líderes do Movimento Modernista. Publicou "Os Condenados"; "Memórias Sentimentais de João Miramar", "Estrelas de Absinto", em 1922. Nesse mesmo ano publicou ainda o "Primeiro Caderno de Poesia". Em 1933 publicou o romance "Serafim Ponte Grande" a que se seguiram a 1934 "O Homem e o Cavalo", peça teatral. "Marco Zero", a mais ambiciosa de suas obras, permaneceu incompleta, sendo publicado apenas dois volumes: "A Revolução Melancólica e Chão". Faleceu na capital paulista a 22 de Outubro de 1954.
Manuel Bandeira (1886-1968)
Bandeira (Manuel) ▬ Um dos maiores poetas brasileiros, nasceu em Recife, a 19 de Abril de 1886. Começou a compor versos com a idade de dez anos. Ensinou literatura no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro em 1938 e Literatura Hispano-Americana na Faculdade de Filosofia, em 1943. Publicou numerosos trabalhos de análise literária, analogias, tradução de romances e peças teatrais, clássicas e modernas. Considerado geralmente o poeta mais ilustre de seu tempo, no Brasil. Ocupou na Academia Brasileira de Letras, desde 1940, a cadeira nº 24, que tem como patrono Júlio Ribeiro. Foi membro consultivo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1966, o governo o fez inscrever na Ordem Nacional do Mérito, no grau de Comendador, pelos "relevantes serviços prestados à Nação". Manuel Bandeira faleceu no Rio de Janeiro a 13 de Outubro de 1968.
Antônio de Alcântara Machado (1901-1935)
Machado (Antônio de) ▬ Escritor, bacharel em Direito, jornalista e historiador. Alcântara Machado nasceu no estado de São Paulo no ano de 1901. Filiou-se ao Modernismo, ao lado de Oswald de Andrade, Raul Bopp e outros, que lutavam pela renovação literária. Foi um dos grandes escritores brasileiros. Faleceu em 1935.
Segunda Fase do Modernismo (1930-1945)
A preocupação com o regionalismo e a literatura voltada para a denúncia social marcaram a segunda fase do Modernismo.
A segunda fase do Modernismo começou com a Revolução de 30 e terminou com a deposição de Vargas pelas Forças Armadas em 1945. O período entre 30 e 40 foi decisivo para o romance, que denunciou os males sociais, voltando-se para o homem humilde e injustiçado. Desenvolveu-se nessa época o romance regionalista, psicológico e urbano. A poesia amadureceu as conquistas de 22 e também voltou-se para temas sociais.
Manifestações Artísticas
Refletindo o panorama político, a arte procurou no regionalismo nossas raízes culturais e étnicas. O povo é retratado na pintura.
Em 1936, Lucio Costa e Oscar Niemeyer planejam o prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, marco da arquitetura moderna brasileira.
Empenhando-se para encontrar uma linguagem nacional, Heitor Villa-Lobos incorpora melodias populares e indígenas, além de cantos de pássaros brasileiros, às suas composições.
Para entretenimento das massas, o rádio produz programas de auditório e o cinema, as chanchadas da Atlântida. As gravadoras e editoras multiplicam-se.
Além de toda essa produção cultural, as ciências também se desenvolvem: em 1931, surge a Universidade do Brasil; em 1933, a Escola Livre de Sociologia e Política e em 1934, a Universidade de São Paulo.
Produção Literária
A segunda fase do Modernismo aproveitou e amadureceu as propostas de 22, eliminando exageros e gratuidades. Ao mesmo tempo que continuou as pesquisas estéticas da primeira geração, reabilitou algumas formas tradicionais, como o soneto e o verso rimado. Sua temática foi mais politizada, mas não deixou de lado o espiritualismo e a introspeção.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Poeta e cronista brasileiro, nascido em Itabira, Minas Gerais, em 1902. Fez estudos primários em Nova Friburgo e superiores em Belo Horizonte. Descendente de família rural, fez-se burocrata e entregou-se às letras. Aceitou o Modernismo, de que veio a ser uma das maiores figuras. Poeta sarcástico, irônico e cheio de humor, tem horror ao patético e ao sentimental. Obras: Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934); Sentimento do Fundo (1940); Vida de Bolso (1952); Contos de Aprendiz (1951); Fala, Amendoeira (1957), entre outros.
Como cronista, comentou os acontecimentos com ironia, deixando sempre ver a preocupação com o autêntico, com as coisas essenciais do homem.
Cecília Meireles (1901-1964)
Poetisa brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 1901. Órfã de pai e mãe ficou a cargo da avó materna. Em 1917 concluiu o curso da Escola Normal da sua cidade natal e exerceu seguidamente o magistério. Em 1919 estreou nas letras com "Espectros". Em 1953, em Nova Deli, Cecília recebeu o doutorado honoris causa, e como demonstra o "Romanceiro da Inconfidência", ela foi uma autoridade em estudos folclóricos. Mas ganhou um lugar imortal na poesia. Começou com a geração modernista, um movimento de poesia católica. Seu lirismo é do mais alto e astralmente radiante que fulge da poesia. Obras: "Viagem" (1939); "Amor em Leonoreta" (1952); "Romanceiro da Inconfidência" (1953); "Mar Absoluto" (1945); entre outros.
Vinícius de Moraes (1913-1980)
Vinícius de Moraes tornou-se extremamente popular devido a sua atuação na música popular. No entanto, antes de músico, foi poeta lírico. No início da carreira, a tônica da sua poesia reside na religiosidade. A partir de "Cinco Elegias" (1943), nasce um lirismo amoroso de fundo erótico em que avulta a figura feminina. Embora não abandone o erotismo, sua poesia vai adquirindo uma conotação social e refletindo o momento presente.
O melhor de sua produção lírica está nos sonetos.
Murilo Mendes (1901-1975)
Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, a 13 de Maio de 1901. Poeta e ensaísta brasileiro, sua obra poética é variada e rica, mas toda marcada por um hermetismo, que não raro lhe dificulta a interpretação. Teve seu primeiro livro publicado em 1930, "Poesias". Daí por diante lançou novas obras, firmando-se no cenário literário brasileiro. Foi Adido Cultural da Embaixada Brasileira, na Itália. Faleceu em 1975. Outras obras: "História do Brasil" (1932); "Contemplação de Ouro Preto" (1954); "Siliciana" (1955); "Tempo Espanhol" (1959); "O Visionário" (1941); etc.
Jorge Lima (1895-1953)
Lima (Jorge de) ▬ Poeta, romancista e médico brasileiro, nasceu na cidade de União dos Palmares, no estado de Alagoas, em 23 de Abril de 1895. Iniciou seu curso de medicina em Salvador, Bahia, completando-o no Rio de Janeiro, em 1914. Foi catedrático de Literatura da Universidade do Brasil e da Católica do Rio de Janeiro. Publicou em 1927, "Poemas" e em 1929, "Novos Poemas". Em 1932, publicou "Poemas Escolhidos". Em 1938 lançou ´"Túnica Inconsútil". Em 1950, "Anunciação" e "Encontro de Mira Coeli". Com a invenção do "Orfeu", lançado em 1952, Jorge Lima alcançou o máximo em sua carreira de poeta inspirado. Jorge Lima ainda escreveu ensaios, histórias infantis e os romances "Salomão e as Mulheres", "O Anjo", "Calunga" e outros. Faleceu no Rio de Janeiro em 15 de Novembro de 1953.
Prosa
O período entre 30 e 40 representou a era do romance brasileiro preocupado em enfocar a realidade brasileira e aproveitando as conquistas estilísticas de 22. Reflexo da crise cafeeira, da Revolução de 30, do declínio dos engenhos no Nordeste e sua substituição pelas usinas, o romance regionalista mostrou um escritor engajado, um crítico das revoluções sociais. Além do romance regionalista, destaca-se o romance urbano, representado pela prosa do gaúcho Érico Veríssimo. José Américo de Almeida, com o livro A Bagaceira (1928), prenunciou o início da segunda fase do Modernismo. No entanto ele é mais importante pela temática de crítica social (engenho, seca, retirantes) do que pelo valor literário.
Rachel de Queiroz (1910-2003)
Raquel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em 1977. Como os outros escritores nordestinos seus contemporâneos, sua obra tem um forte caráter regionalista. Ela começou sua carreira com O Quinze (1930), romance que trata da ceca de 1915, vivido também por ela e sua família.
Caminho de Pedras (1927) é seu romance mais engajado e em As Três Marias, valoriza a análise psicológica. Depois de quase 40 anos sem escrever, Rachel lança em 1992, Memorial de Maria Moura, que conta a história de uma cangaceira nordestina. No últimos anos de sua vida dedicou-se à crônica.
Graciliano Ramos (1892-1953)
Ramos (Graciliano) ▬ Nasceu em Alagoas no ano de 1892 e faleceu em 1953. Foi diretor da Instituição Pública em Maceió e no Rio de Janeiro, onde fixou residência, foi inspetor de ensino secundário e jornalista. É considerado um dos grandes escritores de ficção e da prosa brasileira. Em 1934 estreou nas letras com o romance "Caetés". Logo depois publicou "São Bernardo", "Angustia", "Vidas Secas", "Insônia" e "Memórias do Cárcere", obra em quatro volumes, publicação póstuma, talvez a sua obra-prima.
José Lins do Rego (1901-1957)
Sua obra é um dos pontos fortes do romance regional nordestino. Fixando tipos e costumes da região, escreve mais sobre o fluxo da memória do que pelo influxo da imaginação. A análise psicológica das personagens não é profunda, mas estas são invulgarmente generosas e reais. Estreia com Menino de Engenho (1932), com o qual inicia o ciclo da cana-de-açúcar, representado por Doidinho (1933), Bangüe (1934), Moleque Ricardo (1935), Usina (1936) e Fogo Morto (1943). Neles, com importante força documental, retrata a decadência dos engenhos sufocados pelas usinas modernas.
Escreveu também Peruza (1937), Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939) e Cangaceiro (1953), que compõe o ciclo do cangaço, misticismo e seca.
Jorge Amado (1912-2001)
Amado (Jorge) ▬ Um dos escritores brasileiros mais lidos e traduzidos em todo o mundo. Nasceu numa fazenda de cacau de Auricídia, município de Itabuna, estado da Bahia, no dia 10 de Agosto de 1912. Seu pai Jorge Amado de Faria, foi um dos desbravadores da região cacaueira. A família transferiu-se depois para a cidade de Ilhéus, onde Jorge Amado fez seus primeiros estudos e revelou sua vocação literária. Instigado pelo pai, estudou Direito, formando-se. Sua obra literária é vasta e seus livros alcançaram grande repercussão, sendo traduzidos para mais de 39 idiomas. Viajou para todo o mundo. Entre suas obras mais famosas destacam-se "Capitães de Areia", "Mar Morto", "Terras do Sem Fim", "Gabriela, Cravo e Canela", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", etc. É membro da Academia Brasileira de Letras, cadeira nº 23, cujo patrono é José de Alencar desde 06 de Abril de 1961.
Jorge Amado faleceu em 06 de Agosto de 2001 às vésperas de completar 89 anos, vítima de parada cardiorrespiratória.
Érico Veríssimo (1905-1975)
A obra deste gaúcho divide-se em:
a) Romance urbano, em que retrata os conflitos morais e espirituais de uma sociedade em crise: Clarissa, Música ao Longe, Olhai os Lírios do Campo, entre outros;
b) Romance histórico, em que recupera a história do Rio Grande do Sul, desde os tempos coloniais, passando pela revolta da armada, de 1893, até o início do governo Vargas: O Tempo e o Vento, obra composta de três romances: O Continente, O Retrato e O Arquipélago;
c) Romance político internacional, O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em Antares.
Terceira Fase do Modernismo (1945- )
Após a deposição de Getúlio e o término da Segunda Guerra Mundial, a literatura brasileira entra numa fase a que muitos chamam de Pós-Modernismo. Na poesia, autores da geração de 45", os neoparnasianos rejeitam as propostas de 22. Mas concomitante a eles surge um poeta inclassificável: João Cabral de Melo Neto. A intensa produção de romances e contos marca a prosa que se orienta para o regionalismo com Guimarães Rosa, e para a sondagem psicológica, com Clarice Lispector. Os anos 60 a 90 veem surgir uma prosa multifacetada.
Manifestações Artísticas
O mundo artístico brasileiro é revolucionado por mecenas representantes das elites industriais. Assis Chateaubriant funda, em 1947, o Museu de Arte de São Paulo (Masp); em 1951, Francisco Matarazzo Sobrinho cria a bienal de São Paulo; e Francisco Zampari, oTBC (Teatro Brasileiro de Comédia). Essas iniciativas procuram romper as barreiras do tradicionalismo.
Na pintura, O Abstracionismo, uma arte não voltada para a representação do mundo visível, supera o Figurativismo.
Arquitetos como Lucio Costa e Oscar Niemeyer, com a construção de Brasília, projetam-se internacionalmente.
O movimento Música Viva opõe-se ao nacionalismo de Villa-Lobos, identificado como a ditadura Vargas e introduz a música dodecafônica no Brasil. Esse movimento é seguido pela Música Nova, que reflete uma tendência internacionalista. A música popular descobre a bossa nova com Caetano Veloso e Gilberto Gil. O Tropicalismo, em final dos anos 60, representou uma radicalização estético-musical com a mescla do folclore, rock, ultrapassado, desenvolvido e experimentações artísticas contemporâneas.
O teatro renova-se com a representação, em 1943, de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, sob a direção de Ziembisky. Surgem não só nomes como Ariano Suassuna, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Jorge Andrade, mas também companhias teatrais que revolucionaram nosso teatro: Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), Teatro de Arena, Teatro Oficina.
Produção Literária
Três escritores destacaram-se pela pesquisa de linguagem na terceira fase do Modernismo: Guimarães Rosa e Clarice Lispector na prosa e João Cabral de Melo Neto na poesia.
No entanto, a "Geração de 45", representada por Péricles Eugênio da Silva Ramos, Ledo Ivo, Geir Campos, Mário Quintana, é neoparnasiana. Negando o ideário de 22, esses poetas revalorizavam a rima, a métrica e valorizavam um vocábulo mais erudito, afastando-se do coloquialismo.
Guimarães Rosa (1908-1967)
Rosa nasceu em Codisburgo, Minas Gerais, estudou Medicina, foi diplomata e embaixador. Morreu no Rio de Janeiro, três dias após ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras. É considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira e ocidental.
Seguindo uma tendência básica dessa fase do Modernismo, Guimarães Rosa preocupou-se, partir do uso de arcaísmos, neologismos, empréstimos de outras línguas, exploração de novas estruturas sintáticas, recria a linguagem. Além disso usa recursos da poesia como ritmo, aliterações, metáforas insólitas, criando uma prosa poética.
Em Sagarana, o sertão aparece não mais dentro da tradição regionalista, mas universalizado, cheio de mitos e interrogações sobre a luta entre o bem e o mal, Deus e o Diabo, amor, destino, morte. A esse livro seguiu-se o ciclo de novelas de Corpo de Baile (1956), que a partir da terceira edição deu origem a três volumes independentes: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites de Sertão. Rosa publicou ainda Primeiras Estórias (1962), Tutameia (1967), Estas Estórias (1969), Ave Palavra (1970), todos livros de contos. Sua obra-prima é o romance Grande Sertão: Veredas.
Clarice Lispector (1926-1977)
A ucraniana Clarice Lispector chegou ao Brasil aos dois meses de idade. Seu primeiro romance Pedro do Coração Selvagem (1944) surpreende a crítica por subverter a narrativa tradicional ligada a fatos e retrato de uma sociedade em crise. Escrito em terceira pessoa, caracteriza-se pela fusão da voz da personagem e do narrador (expressa pelo uso do narrador indireto livre) e pela sondagem do mundo interior da personagem. Não mais a crise da sociedade, mas o indivíduo em crise.
Situações cotidianas, banais, desencadeiam nas personagens um fluxo de consciência (mergulho no seu interior) que as leva a ver de outra forma sua relação com o mundo exterior, seu "estar no mundo". São palavras do autor para definir sua narrativa introspectiva: "Não tem pessoas que cosem para fora? Eu cosem para dentro".
Além dos romances O Lustre (1946), Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969), A Hora da Estrela (1977), publicou o livro dos contos dos Laços de Família (1960), A Bela e a Fera (1979), crônicas e literatura infantil.
João Cabral de Melo e Neto (1920-1999)
Nasceu no Recife, Pernambuco, a 09 de Janeiro de 1920. Participou da secção de poesias do Congresso Internacional de Escritores em São Paulo. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, a 15 de Agosto de 1968. Diplomata, poeta e escritor. Algumas de suas obras: "O Rio" (prêmio José de Anchieta), "A pregação pela Pedra" e "Morte e Vida Severina".
Tendências Atuais
Do final dos anos 50 aos nossos dias, a poesia caracterizou-se por propostas de inovação da linguagem poética que se estendem à música popular e à cultura de massa.
Concretismo
O movimento concretista surge em 1956, em São Paulo e propõe o poema objeto. O grupo Noigrantes, fundado por Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, foi porta-voz das propostas concretistas. Revisitando poetas ignorados como Sousândrade e Pedro Kilberry, resgatando sobretudo as inovações de Oswald de Andrade e procedimentos da vanguarda europeia do início do século. Os concretistas decretam a:
• desintegração do verso;
• exploração da camada significante do signo;
• visualmente: exploração com espaço tipográfico da página;
• sonoramente: aliterações, paranomásias, neologismos (montagem e desmontagem de palavras);
• desintegração da estrutura sintático-discursiva;
• metalinguagem.
O Concretismo aglutinou vários artistas em torno de suas propostas, mas houve também dessidências. Mário Chame, em 1962, com o livro Lavra-lavra, lança a Poesia Práxis, que valoriza a palavra no contexto linguístico. Insurgindo-se contra a palavra objeto dos concretistas, propõe a palavra energia:
Em 1968, Wladmir Dias-Pino afasta-se do movimento concretista e cria o Poema/Progresso, em que a palavra dá lugar ao símbolo gráfico.
Poesia Social
Os anos de ditadura fizeram surgir uma poesia engajada, de resistência. Essa tendencia espraiou-se também a música popular que teve em Geraldo Vandré e Chico Buarque seus mais ativos e censurados representantes.
Na poesia, Ferreira Gullar, que já fora concretista, aderira ao Poema/Progresso e fora um dos fundadores do Neoconcretismo, no Rio, passa a orientar sua poesia para a temática social. Seu engajamento político aumenta a partir do golpe de 64.
Escreveu ainda Cabra Marcado para Morrer (1962), Poema Sujo (1976), peças teatrais e ensaios.
Poesia Marginal
Essa poesia foi assim chamada porque sua produção, edição e distribuição eram alternativas: mimeografadas ou em off-set, as triagens eram pequenas e a distribuição feita pelos próprios poetas, de mão em mão, em portas de teatro, restaurantes e escolas. A linguagem aproxima-se da oral e mantém pontos de contato com o Concretismo e o Poema/Progresso.
Prosa
Embora a produção do período apresente tendências variadas, em geral a prosa seguiu as linhas tradicionais, inovou quando adotou novas técnicas ou abordou novos temas como violência urbana e grupos marginalizados. Paralelamente, ao romance, a narrativa curta, conto e crônica, foi muito explorada. Podemos, grosso modo, assim adotar as tendências em prosa:
a) prosa regionalista representada por Mário Palmério (Vila dos Confins, Chapadão do Bugre), Bernardo Élis (O Tronco), José Cândido de Carvalho (O Coronél e o Lobisomem), entre outros;
b) prosa política (reflexo do período de ditadura) que se caracteriza por:
• denúncia direta - romance reportagem: José Louzeiro (Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia), Ignácio de Loiola Brandão (Zero), Márcio Souza (Galvez, O Imperador do Acre), Antônio Callado (Reflexos do Baile);
c) prosa urbana: Rubem Fonseca (A Coleira do Cão, Feliz Ano Novo), João Antônio (Malagueta, Perus e Bacanaço), Dalton Trevisan (O Vampiro de Curitiba);
d) prosa intimista: Lygia Fagundes Teles (Ciranda de Pedra, Antes do Baile Verde), Autran Dourado (Ópera dos Mortos), Osman Lins (O Fiel e a Pedra, Avalorava);
e) prosa memorialista: Pedro Niva (Baú de Ossos), Érico Veríssimo (Solo de Clarineta). Com o espaço aberto a ela nos jornais, a crônica ganha nomes de peso como Rubem Braga, Fernando Sabino, Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo entre tantos, que tiveram mestre Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
O Modernismo no Brasil ▬ 1922
CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL
O início do Modernismo no Brasil é assinalado pela Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, em Fevereiro de 1922. A Semana de 22, como também é conhecida, foi resultado de uma série de fatos, que marcaram a vida cultural brasileira nas duas primeiras décadas deste século. São eles:
1912 - O retorno de Oswald de Andrade da Europa, imbuído do futurismo do italiano Marinetti.
1913 - A primeira exposição do italiano Lasar Segall no Brasil, com sua pintura expressionista.
1917 - A exposição de Anita Malfatti, em que ela apresenta o Cubismo, desprezando a perspectiva convencional e representando os objetos com formas geométricas.
1921 - O retorno de Graça Aranha da Europa e a publicação de Estética da vida, em que ele condena os padrões da época.
Enquanto esses fatos ocorriam, enquanto o país passava por um período histórico conturbado, que resultaria no fim da República Velha (1889-1930).
Em Fevereiro de 1922 uma série de eventos ▬ sessões, conferências, recitais, exposições de artes plásticas ▬ se deram no Teatro Municipal de São Paulo, com a participação de: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guiomar Novais, Heitor Villa-Lobos, Paulo Prado, etc. Iniciava-se o Modernismo no Brasil, renovando a mentalidade nacional e colocando o país na atualidade do mundo.
FASES DO MODERNISMO
O movimento modernista brasileiro passou por três fases distintas, que podemos destacar com os acontecimentos políticos do país.
1ª fase - 1922-1930
É uma fase de definição de comportamentos e tendências, cheia de publicações de revistas e manifestos. Também na política, o Brasil passa por momentos de transformações.
É o momento mais radical do Modernismo caracterizado:
• pelos ideais anárquicos;
• por um nacionalismo exagerado;
• pelo primitivismo, isto é, pela volta às origens.
São autores dessa primeira fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado.
2ª fase - 1930-1945
Trata-se de uma de construção, com ideias literárias inovadoras e de muita produtividade ▬ na prosa e na poesia.
Abrem essa fase, Mário de Andrade com a obra Macunaíma e José Américo de Almeida com A Bagaceira.
É um período que se caracteriza por uma literatura construtiva e com consciência política, e produção de uma literatura regional com Érico Veríssimo, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz.
3ª fase - 1945
Na literatura, os autores brasileiros fogem dos excessos iniciais da geração de 22 e já é possível vislumbrar, na prosa, uma produção intimista e introspectiva, sendo Clarice Lispector a figura mais representativa desse tipo de romance. Ou uma literatura regionalista, cujo representante magistral foi Guimarães Rosa, ao registrar a psicologia, a fala e o mundo do jagunço do centro do Brasil.
Na poesia, destacam-se: João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Ledo Ivo e Mauro Mota.
Percebe-se nos autores modernos um vocabulário cheio de expressões coloquiais, traduzindo a fala típica brasileira, versos livres, estilo conciso.
Leia agora, algumas estrofes do poema Os Sapos de Manuel Bandeira, recitado durante a Semana de Arte Moderna e que traduz o espírito de reação contra a poesia parnasiana.
Oswald de Andrade,
Poesias reunidas,
Civilização Brasileira.
MODERNISMO (1922-1980)
O Modernismo foi responsável por uma manifestação artística, rompendo com a arte tradicional, totalmente academicista. Os autores dessa época têm a preocupação de retratar as várias mudanças da sociedade, assim como aproximar mais as obras da linguagem cotidiana.
Fortemente influenciados pela revolução artística trazida pelas vanguardas europeias, alguns jovens artistas, como Oswald de Andrade, realizaram a Semana de Arte Moderna em 1922, evento que teve grande repercussão (tanto positiva como negativa) no meio artístico e que ditaria as novas regras da arte, valorizando uma estética mais brasileira e de crítica às tradicionais vigentes.
O Modernismo é dividido em três fases, com traços bem distintos:
1ª fase (1922-1930): heróica, de ruptura com a tradição.
2ª fase (1930-1945): regionalista.
3ª fase (1945-1980): pós-moderna.
A primeira 1ª fase modernista servia para difundir as ideias antiacademicistas, valorizar a coloquialidade, resgatar o nacionalismo, revolucionar a linguagem e criticar os problemas sociais da época. Uma das formas de divulgação das ideias modernistas eram os manifestos Pau-Brasil, o Manifesto Nhengaçu Verde-Amarelo e o Manifesto da Antropofagia. Esses manifestos foram publicados nas resvistas Klaxon, A Revista e Festa.
As principais características dos autores modernistas são: a valorização do cotidiano, do coloquial, da linguagem simples, há uma aproximação da prosa com a poesia, o nacionalismo, crítica social, liberdade formal, uso do verso livre (sem métrica), do verso branco (sem métrica) e humor como recurso crítico (poema-piada e poema-paródia).
Os autores mais importantes da primeira fase modernista são: Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Alcântara Machado.
A 2ª fase modernista apresenta uma maturidade em relação a primeira, especialmente na poesia, em que há uma união de alguns elementos tradicionais (como o soneto) e inovações na linguagem. Há o interesse pelo lado místico e religioso das coisas. Destaca-se também no poema o engajamento, a forte crítica social e política aos problemas da época, como a 2ª Grande Guerra Mundial, o Estado Novo e a Era Vargas. Os principais poetas do período são: Carlos Drummond de Andrade, Vinícios de Moraes, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles.
Na prosa, há um grande resgate do romance regionalista (que se polarizou durante o Romantismo), obras que são mostradas em determinadas regiões brasileiras, com o seu povo, os seus problemas, a sua linguagem e os seus costumes. Eles também são chamados de Romances de 30. Há a preocupação em enfatizar o psicológico do personagem e a sua relação com a sua terra, em uma espécie de determinismo do homem e o seu meio. Os romances deterministas se dividem pelas regiões tratadas nas obras:
- Nordeste - Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Américo de Almeida.
- Sudeste - Cornélio Pena, Ciro dos Anjos, Otávio de Faria.
- Sul - Érico Veríssimo e Dionélio Machado.
A 3ª fase modernista, também chamada de Geração de 45, é a mais diversificada, pois tem a preocupação de transformar a literatura vigente, fundindo o resgate de certo rigor formal com a criação de uma nova linguagem artística, somada a profunda análise psicológica e reflexões existenciais. Na prosa surgem algumas tendências como:
- prosa de abordagem psicológica: que trata da introspecção, dos conflitos existenciais e psicológico de seus personagens. Os principais escritores dessa tendência são: Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, Antônio Olavo e Lygia Fagundes Telles.
- prosa urbana: que trata dos conflitos dos homens das grandes cidades. Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
- prosa regionalista - diferente da geração regionalista de 30 (que buscava apenas representar determinada região), a preocupação dos autores de 45 é a recriação do universo regional e da palavra. Destaca-se a figura de Mário Palmério, Herberto Sales, Bernardo Élis e principalmente, Guimarães Rosa.
Na poesia da época destaca-se o regate do rigor das formar tradicionais e a métrica. O autor mais importante desse período é João Cabral de Melo Neto.
Contemporaneidade (1980- Até os dias atuais)
Na contemporaneidade não encontramos o predomínio de um só estilo, mas sim, várias tendências que convivem ao mesmo tempo. Na poesia surgem cinco tendências:
1. Concretismo: que aboliu o verso tradicional e a sua linearidade, valorizando a visualidade, trabalha com a montagem e a desmontagem das palavras, possibilitando várias interpretações. Seus principais representantes são: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
2. Poema-práxis: criado pela dessidência do grupo concretista. A poesia-práxis valoriza cada palavra como um ser atuante, uma fonte, um organismo que gera outras palavras. Surge daí o conceito de "palavra-energia". Os principais autores são Mário Chame, Mauro Gama, Armando Freitas Filho, Ailton Medeiros, José Guilherme Melchior, Camargo Meyer, Lousada Filho, Antônio Carlos Cabral, dentre outros.
3. Poema-processo: textos predominantemente visuais, propondo-se a substituir a palavra por "novas disposições tipográficas", resultando um poema predominante visual, "semiótico", com vários recursos. Os principais autores são: Luis Ângelo Pinto e Moacir Cisne.
4. Poesia social: discordando do radicalismo concretista, surge paralelamente um movimento de denúncia dos problemas e desigualdades sociais do país. Com uma linguagem simples, esses poetas tinham como alvo de suas críticas a Ditadura Militar e a Guerra do Vietnã. Os principais representantes dessa tendência são: Fernando Gullar, Afonso Ávila, Thiago de Mello e Affonso Romano de Sant'Anna.
5. Poesia marginal: produzida durante a década de 70, era distribuída em bares, cinemas, teatros, revistas alternativas, entre outros meios. Considerada marginal por ser uma produção feita fora do circuito editorial tradicional. Muitas das vezes era o próprio autor que fazia a distribuição de suas obras. É ampla e diversificada. A obra que dá um parâmetro dessa produção é 26 poetas hoje (1976), organizada por Heloísa Buarque de Holanda, que reúne autores como Chacal, Ana Cristina César, Vera Pedrosa, Torquato Neto, Wally Salomão, Roberto Schwartz, entre outros.
Na prosa, destaca-se:
1. Prosa regionalista: retoma a tradição dos romances de 30 e em certos casos, com o engajamento político. Os principais autores são: Mário Palmério, Bernardo Élis, Ariano Suassuna, Márcio Souza, Milton Hatoum, Josué Montello, Dalcídio Jurandir e José Cândido de Carvalho.
2. Prosa política: ferramenta de denúncia política durante a ditadura e conta os problemas sociais do país. Destacam-se Ignácio de Loyola Brandão, Antônio Callado, Ivan Ângelo, Roberto Drummond, Márcio Souza e João Ubaldo Ribeiro.
3. Fantástico: prosa que trabalha com aquilo que é irreal, insólito, mas como metáfora de problemas do cotidiano. Os autores mais conhecidos são: Murilo Rubião, José J. Veiga, Moacyr Scliar e Lygia Fagundes Telles.
4. Prosa urbana: denúncia da realidade da vida das grandes cidades e seus problemas como: a violência, a solidão, o preconceito racial e a prostituição. Os autores mais conhecidos são: Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Luiz Vilela, João Antônio, Ignácio Loyola Brandão, Patrícia Melo e Sérgio Sant'Anna.
5. Prosa intimista - voltada para a sondagem psicológica e a crise existencial do indivíduo. Muitas das vezes o enredo é reduzido para se enfatizar os conflitos internos do personagem. Autores desse tipo de obra são: Lygia Fagundes Telles, Osman Lins, Nélida Piñon, Ivan Ângelo, Bernardo Carvalho, Autran Dourado, Adélia Prado e Raduan Nassar.
6. Prosa autobiográfica ou memorialista: obras feitas a partir de experiências traumáticas dos próprios autores como a ditadura militar, convivência com tribos, prisões ou doenças. Os principais autores são: Marcelo Rubens Paiva, Luis Alberto Mendes, Antônio Callado, Fernando Gabeira, Pedro Nava e Érico Veríssimo.
Vale também destacar as biografias e construções de momentos históricos e culturais também destacados por Rui Castro (que escreveu Chega de Saudade - valorizando a história da Bossa Nova), Ana Miranda (que romanceia a vida de grandes escritores como Gregório de Matos, Clarice Lispector e Gonçalves Dias, imitando os estilos dos mesmos e fazendo um panorama de suas respectivas épocas), Fernando Morais (que escreveu Chatô, o Rei do Brasil, sobre a vida de Assis Chateubriant), entre outros.
7. Romance Reportagem: com influência do New Journalism (tendência a misturar literatura e jornalismo), os autores contam histórias baseadas em fatos verídicos, mas na maioria das vezes, colocam elementos ficcionais. Como destaque, temos José Louzeiro, João Antônio e Agnaldo Silva.
8- Crônicas e contos: dois tipos de textos com grande popularidade, as crônicas e contos chamam sua atenção pela brevidade. Os cronistas mais famosos são Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Stanislaw Ponte Preta, Luís Fernando Veríssimo. Já no conto, quem se destaca é Moacyr Scliar, Dalton Trevisan, Luiz Vilela e Roberto Drummond.
Observação: Vale ainda destacar outros autores contemporâneos de qualidade como: Chico Buarque, André Sant'Anna (filho de Sérgio Sant'Anna), Paulo Leminski, José Paulo Paes, Caio Fernando Abreu, Domingos Pellegrini Jr, Paulo Henriques Brito, Marcelino Freire, Tony Belloto, Jorge Furtado, Adriana Falcão, Daniel Galera, Cristovão Tezza e Clarah Averbuck.
Segundo essa tendência, as figuras reduzidas as formas geométricas, apresentam ao mesmo tempo, o perfil e a frente, mostrando mais de um ângulo de visão. No Brasil, Vicente do Rego Monteiro e Antônio Gomide pintaram quadros cubistas.
A literatura cubista, inaugurada por Apollinaire, preocupou-se com a construção física do texto: valorizou o espaço da folha e a camada significante das palavras e negou a estrofe, a rima, o verso tradicional. Esse seria o embrião da nossa poesia concreta, da década de 50.
Dadaísmo
Este foi o mais radical e destruidor movimento da vanguarda europeia. Fundado por Tristan Tzara, negava o presente, o passado, o futuro e defendia a ideia de que qualquer combinação inusitada promove um efeito estético. O Dadaísmo refletiu um sentimento de saturação cultural de crise social e política.
Surrealismo
Inaugurado com a publicação do Manifesto Surrealista, em 1924, este foi o último movimento da vanguarda. Sofrendo influência das teorias de Freud, o Surrealismo caracterizou-se pela busca do homem primitivo por meio da investigação do mundo do inconsciente e dos sonhos. Na literatura, o traço fundamental foi a escrita automática (o autor deixa-se levar pelo impulso e registra sem controle racional, tudo aquilo que o inconsciente lhe ditar, sem se preocupar com a lógica.
Salvador Dali destacou-se como um dos pintores surrealistas europeus; no Brasil, Ismael Nery.
Divulgação das Ideias da Semana
Uma série de revistas, grupos e manifestos divulgou o resultado da semana por todo o país. Em 1922, surgiu a revista Klaxon, especializada em arte, que apresentou a primeira temática de sistematizar os novos ideais estéticos. Já nesse momento delineou-se uma cisão no grupo dos modernistas, resultado de orientações políticas diferentes: de um lado, artistas marcados pela ideologia marxista pregavam a destruição do passado; outros, alinhados à estrema direita, aceitavam o passado como o ponto de partida para o novo.
Destacaram-se as seguintes correntes que produziram revistas e manifestos:
a)Corrente primitivista: criada em São Paulo, elegeu como tema motivos primitivos nacionais, índio, descoberta do Brasil, período colonial.
- 1924- Manifesto Pau-Brasil: de Oswald de Andrade prega uma poesia voltada para a realidade brasileira, sem importação de fórmulas ou temas estrangeiros.
- 1928 - Revista Antropofagia (que teve duas fases ou "dentições"): dela participaram Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Calos Drummond, Alcântara Machado, Tarsila do Amaral, entre outros. Continua as ideias do Pau-Brasil. Propondo um retorno aos costumes primitivos, pregam "a aceitação não passiva, sob a forma de uma devoração crítica, da contribuição europeia, e sua transformação num novo produto, dotado de valores próprios".
b) Corrente nacionalista: criada também em São Paulo, defende os motivos folclóricos e indígenas, mas não nega a tradição, sobre a qual, segundo seus poetas, deveria fundar-se a nova literatura.
- 1926 - Verde-Amarelismo: movimento formado por Plínio Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida e Cassiano Ricardo, surge como reação ao Pau-Brasil. Ufanista, o movimento identifica-se como facismo.
- 1927 - Grupo Verde-Amarelo: elege a anta como símbolo nacional e passa a chamar-se Grupo (ou Escola) da Anta. Em 1929, surge o Nhengaçu Verde-Amarelo, manifesto do Grupo da Anta.
- 1926 - O Centro Regionalista de Recife: inspirado por Gilberto Freire e José Lins do Rego, dá origem ao ciclo nordestino de ficção.
c) Corrente espiritualista: centrada no Rio de Janeiro, tentou imprimir um caráter espiritualista ao Modernismo, defendendo a tradição. Na tentativa de conciliar presente e passado, valorizou a estática simbolista.
- 1927 - Revista Festa: fundada por Tasso da Silveira, tinha entre seus colaboradores Cecília Meireles e Murilo Mendes.
- 1924 - Estética: Rio de Janeiro.
- 1925 - A Revista: Minas Gerais, tinha Carlos Drummond entre seus redatores.
- 1926 - Terra Roxa e Outras Terras: São Paulo.
- 1927 - Revista Verde de Cataguases: Minas Gerais.
Primeira Fase do Modernismo (1922-1930)
A primeira fase do Modernismo, também chamada de heróica foi a que mais combateu a tradição, marcou-se por intensa tradição em poesia cujas características foram:
• utilização do verso livre;
• procura de uma língua "brasileira",
privilegiando por isso a linguagem coloquial;
• uso de linguagem telegráfica, condensada;
• ausência de pontuação;
• tematização da própria linguagem (metalinguagem);
• valorização do cotidiano;
• incorporação do presente;
• uso de paródias, com o sentido de dessacralizar a tradição;
• uso de humor (poema piada);
• criação de neologismos;
• aproximação da linguagem da prosa.
Produção Literária
Mário de Andrade ( 1893-1945)
Andrade (Mário de) ▬ Mário Raul de Morais Andrade nasceu em São Paulo a 09 de Outubro de 1893. Diplomado em piano pelo Conservatério Dramático e Musical de São Paulo, onde foi também professor de estética e história da música. Publicou em 1917, o livro "Há uma Gota de Sangue em cada Poema". Em 1922, participou da Semana de Arte Moderna. A partir daí, Mário de Andrade se tornou a principal figura do Movimento Modernista. Escreveu: "Pauliceia Desvairada", ensaio; "A Escrava que não é Isaura", e ainda "Losango Caqui", poesia e "Primeiro Amor", "Amar Verbo Intransitivo", romance. Em 1928, lançou "Macunaíma". Mário de Andrade faleceu em São Paulo em 25 de Fevereiro de 1945.
Oswald de Andrade (1890-1954)
Andrade (Oswald de) ▬ José Oswald de Sousa Andrade, poeta e prosador brasileiro, nasceu em São Paulo a 11 de Janeiro de 1890. Formou-se em direito no ano de 1919. Participou com entusiasmo da Semana de Arte Moderna, realizada em São Paulo no ano de 1922, tornando-se mesmo um dos líderes do Movimento Modernista. Publicou "Os Condenados"; "Memórias Sentimentais de João Miramar", "Estrelas de Absinto", em 1922. Nesse mesmo ano publicou ainda o "Primeiro Caderno de Poesia". Em 1933 publicou o romance "Serafim Ponte Grande" a que se seguiram a 1934 "O Homem e o Cavalo", peça teatral. "Marco Zero", a mais ambiciosa de suas obras, permaneceu incompleta, sendo publicado apenas dois volumes: "A Revolução Melancólica e Chão". Faleceu na capital paulista a 22 de Outubro de 1954.
Manuel Bandeira (1886-1968)
Bandeira (Manuel) ▬ Um dos maiores poetas brasileiros, nasceu em Recife, a 19 de Abril de 1886. Começou a compor versos com a idade de dez anos. Ensinou literatura no Colégio Pedro II do Rio de Janeiro em 1938 e Literatura Hispano-Americana na Faculdade de Filosofia, em 1943. Publicou numerosos trabalhos de análise literária, analogias, tradução de romances e peças teatrais, clássicas e modernas. Considerado geralmente o poeta mais ilustre de seu tempo, no Brasil. Ocupou na Academia Brasileira de Letras, desde 1940, a cadeira nº 24, que tem como patrono Júlio Ribeiro. Foi membro consultivo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Em 1966, o governo o fez inscrever na Ordem Nacional do Mérito, no grau de Comendador, pelos "relevantes serviços prestados à Nação". Manuel Bandeira faleceu no Rio de Janeiro a 13 de Outubro de 1968.
Antônio de Alcântara Machado (1901-1935)
Machado (Antônio de) ▬ Escritor, bacharel em Direito, jornalista e historiador. Alcântara Machado nasceu no estado de São Paulo no ano de 1901. Filiou-se ao Modernismo, ao lado de Oswald de Andrade, Raul Bopp e outros, que lutavam pela renovação literária. Foi um dos grandes escritores brasileiros. Faleceu em 1935.
Segunda Fase do Modernismo (1930-1945)
A preocupação com o regionalismo e a literatura voltada para a denúncia social marcaram a segunda fase do Modernismo.
A segunda fase do Modernismo começou com a Revolução de 30 e terminou com a deposição de Vargas pelas Forças Armadas em 1945. O período entre 30 e 40 foi decisivo para o romance, que denunciou os males sociais, voltando-se para o homem humilde e injustiçado. Desenvolveu-se nessa época o romance regionalista, psicológico e urbano. A poesia amadureceu as conquistas de 22 e também voltou-se para temas sociais.
Manifestações Artísticas
Refletindo o panorama político, a arte procurou no regionalismo nossas raízes culturais e étnicas. O povo é retratado na pintura.
Em 1936, Lucio Costa e Oscar Niemeyer planejam o prédio do Ministério da Educação e Saúde, no Rio de Janeiro, marco da arquitetura moderna brasileira.
Empenhando-se para encontrar uma linguagem nacional, Heitor Villa-Lobos incorpora melodias populares e indígenas, além de cantos de pássaros brasileiros, às suas composições.
Para entretenimento das massas, o rádio produz programas de auditório e o cinema, as chanchadas da Atlântida. As gravadoras e editoras multiplicam-se.
Além de toda essa produção cultural, as ciências também se desenvolvem: em 1931, surge a Universidade do Brasil; em 1933, a Escola Livre de Sociologia e Política e em 1934, a Universidade de São Paulo.
Produção Literária
A segunda fase do Modernismo aproveitou e amadureceu as propostas de 22, eliminando exageros e gratuidades. Ao mesmo tempo que continuou as pesquisas estéticas da primeira geração, reabilitou algumas formas tradicionais, como o soneto e o verso rimado. Sua temática foi mais politizada, mas não deixou de lado o espiritualismo e a introspeção.
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987)
Poeta e cronista brasileiro, nascido em Itabira, Minas Gerais, em 1902. Fez estudos primários em Nova Friburgo e superiores em Belo Horizonte. Descendente de família rural, fez-se burocrata e entregou-se às letras. Aceitou o Modernismo, de que veio a ser uma das maiores figuras. Poeta sarcástico, irônico e cheio de humor, tem horror ao patético e ao sentimental. Obras: Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934); Sentimento do Fundo (1940); Vida de Bolso (1952); Contos de Aprendiz (1951); Fala, Amendoeira (1957), entre outros.
Como cronista, comentou os acontecimentos com ironia, deixando sempre ver a preocupação com o autêntico, com as coisas essenciais do homem.
Cecília Meireles (1901-1964)
Poetisa brasileira, nascida no Rio de Janeiro em 1901. Órfã de pai e mãe ficou a cargo da avó materna. Em 1917 concluiu o curso da Escola Normal da sua cidade natal e exerceu seguidamente o magistério. Em 1919 estreou nas letras com "Espectros". Em 1953, em Nova Deli, Cecília recebeu o doutorado honoris causa, e como demonstra o "Romanceiro da Inconfidência", ela foi uma autoridade em estudos folclóricos. Mas ganhou um lugar imortal na poesia. Começou com a geração modernista, um movimento de poesia católica. Seu lirismo é do mais alto e astralmente radiante que fulge da poesia. Obras: "Viagem" (1939); "Amor em Leonoreta" (1952); "Romanceiro da Inconfidência" (1953); "Mar Absoluto" (1945); entre outros.
Vinícius de Moraes (1913-1980)
Vinícius de Moraes tornou-se extremamente popular devido a sua atuação na música popular. No entanto, antes de músico, foi poeta lírico. No início da carreira, a tônica da sua poesia reside na religiosidade. A partir de "Cinco Elegias" (1943), nasce um lirismo amoroso de fundo erótico em que avulta a figura feminina. Embora não abandone o erotismo, sua poesia vai adquirindo uma conotação social e refletindo o momento presente.
O melhor de sua produção lírica está nos sonetos.
Murilo Mendes (1901-1975)
Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, a 13 de Maio de 1901. Poeta e ensaísta brasileiro, sua obra poética é variada e rica, mas toda marcada por um hermetismo, que não raro lhe dificulta a interpretação. Teve seu primeiro livro publicado em 1930, "Poesias". Daí por diante lançou novas obras, firmando-se no cenário literário brasileiro. Foi Adido Cultural da Embaixada Brasileira, na Itália. Faleceu em 1975. Outras obras: "História do Brasil" (1932); "Contemplação de Ouro Preto" (1954); "Siliciana" (1955); "Tempo Espanhol" (1959); "O Visionário" (1941); etc.
Jorge Lima (1895-1953)
Lima (Jorge de) ▬ Poeta, romancista e médico brasileiro, nasceu na cidade de União dos Palmares, no estado de Alagoas, em 23 de Abril de 1895. Iniciou seu curso de medicina em Salvador, Bahia, completando-o no Rio de Janeiro, em 1914. Foi catedrático de Literatura da Universidade do Brasil e da Católica do Rio de Janeiro. Publicou em 1927, "Poemas" e em 1929, "Novos Poemas". Em 1932, publicou "Poemas Escolhidos". Em 1938 lançou ´"Túnica Inconsútil". Em 1950, "Anunciação" e "Encontro de Mira Coeli". Com a invenção do "Orfeu", lançado em 1952, Jorge Lima alcançou o máximo em sua carreira de poeta inspirado. Jorge Lima ainda escreveu ensaios, histórias infantis e os romances "Salomão e as Mulheres", "O Anjo", "Calunga" e outros. Faleceu no Rio de Janeiro em 15 de Novembro de 1953.
Prosa
O período entre 30 e 40 representou a era do romance brasileiro preocupado em enfocar a realidade brasileira e aproveitando as conquistas estilísticas de 22. Reflexo da crise cafeeira, da Revolução de 30, do declínio dos engenhos no Nordeste e sua substituição pelas usinas, o romance regionalista mostrou um escritor engajado, um crítico das revoluções sociais. Além do romance regionalista, destaca-se o romance urbano, representado pela prosa do gaúcho Érico Veríssimo. José Américo de Almeida, com o livro A Bagaceira (1928), prenunciou o início da segunda fase do Modernismo. No entanto ele é mais importante pela temática de crítica social (engenho, seca, retirantes) do que pelo valor literário.
Rachel de Queiroz (1910-2003)
Raquel de Queiroz foi a primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras, em 1977. Como os outros escritores nordestinos seus contemporâneos, sua obra tem um forte caráter regionalista. Ela começou sua carreira com O Quinze (1930), romance que trata da ceca de 1915, vivido também por ela e sua família.
Caminho de Pedras (1927) é seu romance mais engajado e em As Três Marias, valoriza a análise psicológica. Depois de quase 40 anos sem escrever, Rachel lança em 1992, Memorial de Maria Moura, que conta a história de uma cangaceira nordestina. No últimos anos de sua vida dedicou-se à crônica.
Graciliano Ramos (1892-1953)
Ramos (Graciliano) ▬ Nasceu em Alagoas no ano de 1892 e faleceu em 1953. Foi diretor da Instituição Pública em Maceió e no Rio de Janeiro, onde fixou residência, foi inspetor de ensino secundário e jornalista. É considerado um dos grandes escritores de ficção e da prosa brasileira. Em 1934 estreou nas letras com o romance "Caetés". Logo depois publicou "São Bernardo", "Angustia", "Vidas Secas", "Insônia" e "Memórias do Cárcere", obra em quatro volumes, publicação póstuma, talvez a sua obra-prima.
José Lins do Rego (1901-1957)
Sua obra é um dos pontos fortes do romance regional nordestino. Fixando tipos e costumes da região, escreve mais sobre o fluxo da memória do que pelo influxo da imaginação. A análise psicológica das personagens não é profunda, mas estas são invulgarmente generosas e reais. Estreia com Menino de Engenho (1932), com o qual inicia o ciclo da cana-de-açúcar, representado por Doidinho (1933), Bangüe (1934), Moleque Ricardo (1935), Usina (1936) e Fogo Morto (1943). Neles, com importante força documental, retrata a decadência dos engenhos sufocados pelas usinas modernas.
Escreveu também Peruza (1937), Pedra Bonita (1938), Riacho Doce (1939) e Cangaceiro (1953), que compõe o ciclo do cangaço, misticismo e seca.
Jorge Amado (1912-2001)
Amado (Jorge) ▬ Um dos escritores brasileiros mais lidos e traduzidos em todo o mundo. Nasceu numa fazenda de cacau de Auricídia, município de Itabuna, estado da Bahia, no dia 10 de Agosto de 1912. Seu pai Jorge Amado de Faria, foi um dos desbravadores da região cacaueira. A família transferiu-se depois para a cidade de Ilhéus, onde Jorge Amado fez seus primeiros estudos e revelou sua vocação literária. Instigado pelo pai, estudou Direito, formando-se. Sua obra literária é vasta e seus livros alcançaram grande repercussão, sendo traduzidos para mais de 39 idiomas. Viajou para todo o mundo. Entre suas obras mais famosas destacam-se "Capitães de Areia", "Mar Morto", "Terras do Sem Fim", "Gabriela, Cravo e Canela", "Dona Flor e Seus Dois Maridos", etc. É membro da Academia Brasileira de Letras, cadeira nº 23, cujo patrono é José de Alencar desde 06 de Abril de 1961.
Jorge Amado faleceu em 06 de Agosto de 2001 às vésperas de completar 89 anos, vítima de parada cardiorrespiratória.
Érico Veríssimo (1905-1975)
A obra deste gaúcho divide-se em:
a) Romance urbano, em que retrata os conflitos morais e espirituais de uma sociedade em crise: Clarissa, Música ao Longe, Olhai os Lírios do Campo, entre outros;
b) Romance histórico, em que recupera a história do Rio Grande do Sul, desde os tempos coloniais, passando pela revolta da armada, de 1893, até o início do governo Vargas: O Tempo e o Vento, obra composta de três romances: O Continente, O Retrato e O Arquipélago;
c) Romance político internacional, O Prisioneiro, O Senhor Embaixador e Incidente em Antares.
Terceira Fase do Modernismo (1945- )
Após a deposição de Getúlio e o término da Segunda Guerra Mundial, a literatura brasileira entra numa fase a que muitos chamam de Pós-Modernismo. Na poesia, autores da geração de 45", os neoparnasianos rejeitam as propostas de 22. Mas concomitante a eles surge um poeta inclassificável: João Cabral de Melo Neto. A intensa produção de romances e contos marca a prosa que se orienta para o regionalismo com Guimarães Rosa, e para a sondagem psicológica, com Clarice Lispector. Os anos 60 a 90 veem surgir uma prosa multifacetada.
Manifestações Artísticas
O mundo artístico brasileiro é revolucionado por mecenas representantes das elites industriais. Assis Chateaubriant funda, em 1947, o Museu de Arte de São Paulo (Masp); em 1951, Francisco Matarazzo Sobrinho cria a bienal de São Paulo; e Francisco Zampari, oTBC (Teatro Brasileiro de Comédia). Essas iniciativas procuram romper as barreiras do tradicionalismo.
Na pintura, O Abstracionismo, uma arte não voltada para a representação do mundo visível, supera o Figurativismo.
Arquitetos como Lucio Costa e Oscar Niemeyer, com a construção de Brasília, projetam-se internacionalmente.
O movimento Música Viva opõe-se ao nacionalismo de Villa-Lobos, identificado como a ditadura Vargas e introduz a música dodecafônica no Brasil. Esse movimento é seguido pela Música Nova, que reflete uma tendência internacionalista. A música popular descobre a bossa nova com Caetano Veloso e Gilberto Gil. O Tropicalismo, em final dos anos 60, representou uma radicalização estético-musical com a mescla do folclore, rock, ultrapassado, desenvolvido e experimentações artísticas contemporâneas.
O teatro renova-se com a representação, em 1943, de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, sob a direção de Ziembisky. Surgem não só nomes como Ariano Suassuna, Gianfrancesco Guarnieri, Augusto Boal, Jorge Andrade, mas também companhias teatrais que revolucionaram nosso teatro: Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), Teatro de Arena, Teatro Oficina.
Produção Literária
Três escritores destacaram-se pela pesquisa de linguagem na terceira fase do Modernismo: Guimarães Rosa e Clarice Lispector na prosa e João Cabral de Melo Neto na poesia.
No entanto, a "Geração de 45", representada por Péricles Eugênio da Silva Ramos, Ledo Ivo, Geir Campos, Mário Quintana, é neoparnasiana. Negando o ideário de 22, esses poetas revalorizavam a rima, a métrica e valorizavam um vocábulo mais erudito, afastando-se do coloquialismo.
Guimarães Rosa (1908-1967)
Rosa nasceu em Codisburgo, Minas Gerais, estudou Medicina, foi diplomata e embaixador. Morreu no Rio de Janeiro, três dias após ter tomado posse na Academia Brasileira de Letras. É considerado um dos maiores escritores da literatura brasileira e ocidental.
Seguindo uma tendência básica dessa fase do Modernismo, Guimarães Rosa preocupou-se, partir do uso de arcaísmos, neologismos, empréstimos de outras línguas, exploração de novas estruturas sintáticas, recria a linguagem. Além disso usa recursos da poesia como ritmo, aliterações, metáforas insólitas, criando uma prosa poética.
Em Sagarana, o sertão aparece não mais dentro da tradição regionalista, mas universalizado, cheio de mitos e interrogações sobre a luta entre o bem e o mal, Deus e o Diabo, amor, destino, morte. A esse livro seguiu-se o ciclo de novelas de Corpo de Baile (1956), que a partir da terceira edição deu origem a três volumes independentes: Manuelzão e Miguilim, No Urubuquaquá, no Pinhém e Noites de Sertão. Rosa publicou ainda Primeiras Estórias (1962), Tutameia (1967), Estas Estórias (1969), Ave Palavra (1970), todos livros de contos. Sua obra-prima é o romance Grande Sertão: Veredas.
Clarice Lispector (1926-1977)
A ucraniana Clarice Lispector chegou ao Brasil aos dois meses de idade. Seu primeiro romance Pedro do Coração Selvagem (1944) surpreende a crítica por subverter a narrativa tradicional ligada a fatos e retrato de uma sociedade em crise. Escrito em terceira pessoa, caracteriza-se pela fusão da voz da personagem e do narrador (expressa pelo uso do narrador indireto livre) e pela sondagem do mundo interior da personagem. Não mais a crise da sociedade, mas o indivíduo em crise.
Situações cotidianas, banais, desencadeiam nas personagens um fluxo de consciência (mergulho no seu interior) que as leva a ver de outra forma sua relação com o mundo exterior, seu "estar no mundo". São palavras do autor para definir sua narrativa introspectiva: "Não tem pessoas que cosem para fora? Eu cosem para dentro".
Além dos romances O Lustre (1946), Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres (1969), A Hora da Estrela (1977), publicou o livro dos contos dos Laços de Família (1960), A Bela e a Fera (1979), crônicas e literatura infantil.
João Cabral de Melo e Neto (1920-1999)
Nasceu no Recife, Pernambuco, a 09 de Janeiro de 1920. Participou da secção de poesias do Congresso Internacional de Escritores em São Paulo. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, a 15 de Agosto de 1968. Diplomata, poeta e escritor. Algumas de suas obras: "O Rio" (prêmio José de Anchieta), "A pregação pela Pedra" e "Morte e Vida Severina".
Tendências Atuais
Do final dos anos 50 aos nossos dias, a poesia caracterizou-se por propostas de inovação da linguagem poética que se estendem à música popular e à cultura de massa.
Concretismo
O movimento concretista surge em 1956, em São Paulo e propõe o poema objeto. O grupo Noigrantes, fundado por Décio Pignatari e os irmãos Augusto e Haroldo de Campos, foi porta-voz das propostas concretistas. Revisitando poetas ignorados como Sousândrade e Pedro Kilberry, resgatando sobretudo as inovações de Oswald de Andrade e procedimentos da vanguarda europeia do início do século. Os concretistas decretam a:
• desintegração do verso;
• exploração da camada significante do signo;
• visualmente: exploração com espaço tipográfico da página;
• sonoramente: aliterações, paranomásias, neologismos (montagem e desmontagem de palavras);
• desintegração da estrutura sintático-discursiva;
• metalinguagem.
O Concretismo aglutinou vários artistas em torno de suas propostas, mas houve também dessidências. Mário Chame, em 1962, com o livro Lavra-lavra, lança a Poesia Práxis, que valoriza a palavra no contexto linguístico. Insurgindo-se contra a palavra objeto dos concretistas, propõe a palavra energia:
Em 1968, Wladmir Dias-Pino afasta-se do movimento concretista e cria o Poema/Progresso, em que a palavra dá lugar ao símbolo gráfico.
Poesia Social
Os anos de ditadura fizeram surgir uma poesia engajada, de resistência. Essa tendencia espraiou-se também a música popular que teve em Geraldo Vandré e Chico Buarque seus mais ativos e censurados representantes.
Na poesia, Ferreira Gullar, que já fora concretista, aderira ao Poema/Progresso e fora um dos fundadores do Neoconcretismo, no Rio, passa a orientar sua poesia para a temática social. Seu engajamento político aumenta a partir do golpe de 64.
Escreveu ainda Cabra Marcado para Morrer (1962), Poema Sujo (1976), peças teatrais e ensaios.
Poesia Marginal
Essa poesia foi assim chamada porque sua produção, edição e distribuição eram alternativas: mimeografadas ou em off-set, as triagens eram pequenas e a distribuição feita pelos próprios poetas, de mão em mão, em portas de teatro, restaurantes e escolas. A linguagem aproxima-se da oral e mantém pontos de contato com o Concretismo e o Poema/Progresso.
Prosa
Embora a produção do período apresente tendências variadas, em geral a prosa seguiu as linhas tradicionais, inovou quando adotou novas técnicas ou abordou novos temas como violência urbana e grupos marginalizados. Paralelamente, ao romance, a narrativa curta, conto e crônica, foi muito explorada. Podemos, grosso modo, assim adotar as tendências em prosa:
a) prosa regionalista representada por Mário Palmério (Vila dos Confins, Chapadão do Bugre), Bernardo Élis (O Tronco), José Cândido de Carvalho (O Coronél e o Lobisomem), entre outros;
b) prosa política (reflexo do período de ditadura) que se caracteriza por:
• denúncia direta - romance reportagem: José Louzeiro (Lúcio Flávio, Passageiro da Agonia), Ignácio de Loiola Brandão (Zero), Márcio Souza (Galvez, O Imperador do Acre), Antônio Callado (Reflexos do Baile);
c) prosa urbana: Rubem Fonseca (A Coleira do Cão, Feliz Ano Novo), João Antônio (Malagueta, Perus e Bacanaço), Dalton Trevisan (O Vampiro de Curitiba);
d) prosa intimista: Lygia Fagundes Teles (Ciranda de Pedra, Antes do Baile Verde), Autran Dourado (Ópera dos Mortos), Osman Lins (O Fiel e a Pedra, Avalorava);
e) prosa memorialista: Pedro Niva (Baú de Ossos), Érico Veríssimo (Solo de Clarineta). Com o espaço aberto a ela nos jornais, a crônica ganha nomes de peso como Rubem Braga, Fernando Sabino, Lourenço Diaféria, Luís Fernando Veríssimo entre tantos, que tiveram mestre Stanislaw Ponte Preta (Sérgio Porto).
O Modernismo no Brasil ▬ 1922
CONTEXTO HISTÓRICO-SOCIAL
O início do Modernismo no Brasil é assinalado pela Semana de Arte Moderna, ocorrida em São Paulo, em Fevereiro de 1922. A Semana de 22, como também é conhecida, foi resultado de uma série de fatos, que marcaram a vida cultural brasileira nas duas primeiras décadas deste século. São eles:
1912 - O retorno de Oswald de Andrade da Europa, imbuído do futurismo do italiano Marinetti.
1913 - A primeira exposição do italiano Lasar Segall no Brasil, com sua pintura expressionista.
1917 - A exposição de Anita Malfatti, em que ela apresenta o Cubismo, desprezando a perspectiva convencional e representando os objetos com formas geométricas.
1921 - O retorno de Graça Aranha da Europa e a publicação de Estética da vida, em que ele condena os padrões da época.
Enquanto esses fatos ocorriam, enquanto o país passava por um período histórico conturbado, que resultaria no fim da República Velha (1889-1930).
Em Fevereiro de 1922 uma série de eventos ▬ sessões, conferências, recitais, exposições de artes plásticas ▬ se deram no Teatro Municipal de São Paulo, com a participação de: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Guilherme de Almeida, Menotti del Picchia, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guiomar Novais, Heitor Villa-Lobos, Paulo Prado, etc. Iniciava-se o Modernismo no Brasil, renovando a mentalidade nacional e colocando o país na atualidade do mundo.
FASES DO MODERNISMO
O movimento modernista brasileiro passou por três fases distintas, que podemos destacar com os acontecimentos políticos do país.
1ª fase - 1922-1930
É uma fase de definição de comportamentos e tendências, cheia de publicações de revistas e manifestos. Também na política, o Brasil passa por momentos de transformações.
É o momento mais radical do Modernismo caracterizado:
• pelos ideais anárquicos;
• por um nacionalismo exagerado;
• pelo primitivismo, isto é, pela volta às origens.
São autores dessa primeira fase: Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Antônio de Alcântara Machado, Manuel Bandeira, Menotti del Picchia, Guilherme de Almeida, Cassiano Ricardo e Plínio Salgado.
2ª fase - 1930-1945
Trata-se de uma de construção, com ideias literárias inovadoras e de muita produtividade ▬ na prosa e na poesia.
Abrem essa fase, Mário de Andrade com a obra Macunaíma e José Américo de Almeida com A Bagaceira.
É um período que se caracteriza por uma literatura construtiva e com consciência política, e produção de uma literatura regional com Érico Veríssimo, Jorge Amado, José Lins do Rego, Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz.
3ª fase - 1945
Na literatura, os autores brasileiros fogem dos excessos iniciais da geração de 22 e já é possível vislumbrar, na prosa, uma produção intimista e introspectiva, sendo Clarice Lispector a figura mais representativa desse tipo de romance. Ou uma literatura regionalista, cujo representante magistral foi Guimarães Rosa, ao registrar a psicologia, a fala e o mundo do jagunço do centro do Brasil.
Na poesia, destacam-se: João Cabral de Melo Neto, Ferreira Gullar, Ledo Ivo e Mauro Mota.
Percebe-se nos autores modernos um vocabulário cheio de expressões coloquiais, traduzindo a fala típica brasileira, versos livres, estilo conciso.
Leia agora, algumas estrofes do poema Os Sapos de Manuel Bandeira, recitado durante a Semana de Arte Moderna e que traduz o espírito de reação contra a poesia parnasiana.
OS SAPOS
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Enfunando
os papos.
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O meu verso é bom
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Saem da penumbra.
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Frumento sem joio.
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Aos pulos, os sapos.
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Faço rimas com
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A luz os deslumbra.
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Consoantes de apoio.
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Em ronco que aterra.
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Vai por cinquenta anos
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Berra o sapo-boi:
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Que lhes dei a norma:
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_ “Meu pai foi à guerra!”
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Reduzi sem danos
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_ “Não foi!” _ “Foi!” _
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A fôrmas a forma.
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[_”Não foi!”
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Clame a saparia
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O sapo-tanoeiro,
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Em críticas céticas:
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Parnasiano aguado,
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Não há mais poesia.
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Diz: _ “Meu cancioneiro
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Mas há artes poéticas...”
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É bem martelado.
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Vede como primo
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Em comer os hiatos!
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Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
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Enfunando: inchando, enchendo.
Penumbra: obscuridade, meia-luz.
Deslumbra: ofusca, perturba a vista.
Aterra: aterroriza, dá medo.
Primo: sou hábil, sobressaio.
Termos cognatos: palavras de origem comum. (Exemplo: terreno, terreiro, terráqueo: são termos cognatos. Têm a mesma origem que a terra.)
Frumento: trigo.
Joio: erva daninha que cresce no meio do trigo.
Clame: grite.
Céticas: descrentes.
Observe no poema "Pronomiais" como Oswald de Andrade dá mais importância ao linguajar coloquial ("Me dá um cigarro") do que a colocação exigida pela gramática (Dê-me um cigarro").
PRONOMIAIS
Dê-me um cigarro Mas o bom negro e o bom branco
Diz a gramática Da nação brasileira
Do professor e do aluno Dizem todos os dias
E do mulato sabido Deixa disso camarada
Me dá um cigarroOswald de Andrade,
Poesias reunidas,
Civilização Brasileira.
MODERNISMO (1922-1980)
O Modernismo foi responsável por uma manifestação artística, rompendo com a arte tradicional, totalmente academicista. Os autores dessa época têm a preocupação de retratar as várias mudanças da sociedade, assim como aproximar mais as obras da linguagem cotidiana.
Fortemente influenciados pela revolução artística trazida pelas vanguardas europeias, alguns jovens artistas, como Oswald de Andrade, realizaram a Semana de Arte Moderna em 1922, evento que teve grande repercussão (tanto positiva como negativa) no meio artístico e que ditaria as novas regras da arte, valorizando uma estética mais brasileira e de crítica às tradicionais vigentes.
O Modernismo é dividido em três fases, com traços bem distintos:
1ª fase (1922-1930): heróica, de ruptura com a tradição.
2ª fase (1930-1945): regionalista.
3ª fase (1945-1980): pós-moderna.
A primeira 1ª fase modernista servia para difundir as ideias antiacademicistas, valorizar a coloquialidade, resgatar o nacionalismo, revolucionar a linguagem e criticar os problemas sociais da época. Uma das formas de divulgação das ideias modernistas eram os manifestos Pau-Brasil, o Manifesto Nhengaçu Verde-Amarelo e o Manifesto da Antropofagia. Esses manifestos foram publicados nas resvistas Klaxon, A Revista e Festa.
As principais características dos autores modernistas são: a valorização do cotidiano, do coloquial, da linguagem simples, há uma aproximação da prosa com a poesia, o nacionalismo, crítica social, liberdade formal, uso do verso livre (sem métrica), do verso branco (sem métrica) e humor como recurso crítico (poema-piada e poema-paródia).
Os autores mais importantes da primeira fase modernista são: Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Cassiano Ricardo, Guilherme de Almeida e Alcântara Machado.
A 2ª fase modernista apresenta uma maturidade em relação a primeira, especialmente na poesia, em que há uma união de alguns elementos tradicionais (como o soneto) e inovações na linguagem. Há o interesse pelo lado místico e religioso das coisas. Destaca-se também no poema o engajamento, a forte crítica social e política aos problemas da época, como a 2ª Grande Guerra Mundial, o Estado Novo e a Era Vargas. Os principais poetas do período são: Carlos Drummond de Andrade, Vinícios de Moraes, Murilo Mendes, Jorge de Lima e Cecília Meireles.
Na prosa, há um grande resgate do romance regionalista (que se polarizou durante o Romantismo), obras que são mostradas em determinadas regiões brasileiras, com o seu povo, os seus problemas, a sua linguagem e os seus costumes. Eles também são chamados de Romances de 30. Há a preocupação em enfatizar o psicológico do personagem e a sua relação com a sua terra, em uma espécie de determinismo do homem e o seu meio. Os romances deterministas se dividem pelas regiões tratadas nas obras:
- Nordeste - Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Américo de Almeida.
- Sudeste - Cornélio Pena, Ciro dos Anjos, Otávio de Faria.
- Sul - Érico Veríssimo e Dionélio Machado.
A 3ª fase modernista, também chamada de Geração de 45, é a mais diversificada, pois tem a preocupação de transformar a literatura vigente, fundindo o resgate de certo rigor formal com a criação de uma nova linguagem artística, somada a profunda análise psicológica e reflexões existenciais. Na prosa surgem algumas tendências como:
- prosa de abordagem psicológica: que trata da introspecção, dos conflitos existenciais e psicológico de seus personagens. Os principais escritores dessa tendência são: Clarice Lispector, Carlos Heitor Cony, Antônio Olavo e Lygia Fagundes Telles.
- prosa urbana: que trata dos conflitos dos homens das grandes cidades. Dalton Trevisan e Rubem Fonseca.
- prosa regionalista - diferente da geração regionalista de 30 (que buscava apenas representar determinada região), a preocupação dos autores de 45 é a recriação do universo regional e da palavra. Destaca-se a figura de Mário Palmério, Herberto Sales, Bernardo Élis e principalmente, Guimarães Rosa.
Na poesia da época destaca-se o regate do rigor das formar tradicionais e a métrica. O autor mais importante desse período é João Cabral de Melo Neto.
Contemporaneidade (1980- Até os dias atuais)
Na contemporaneidade não encontramos o predomínio de um só estilo, mas sim, várias tendências que convivem ao mesmo tempo. Na poesia surgem cinco tendências:
1. Concretismo: que aboliu o verso tradicional e a sua linearidade, valorizando a visualidade, trabalha com a montagem e a desmontagem das palavras, possibilitando várias interpretações. Seus principais representantes são: Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Décio Pignatari.
2. Poema-práxis: criado pela dessidência do grupo concretista. A poesia-práxis valoriza cada palavra como um ser atuante, uma fonte, um organismo que gera outras palavras. Surge daí o conceito de "palavra-energia". Os principais autores são Mário Chame, Mauro Gama, Armando Freitas Filho, Ailton Medeiros, José Guilherme Melchior, Camargo Meyer, Lousada Filho, Antônio Carlos Cabral, dentre outros.
3. Poema-processo: textos predominantemente visuais, propondo-se a substituir a palavra por "novas disposições tipográficas", resultando um poema predominante visual, "semiótico", com vários recursos. Os principais autores são: Luis Ângelo Pinto e Moacir Cisne.
4. Poesia social: discordando do radicalismo concretista, surge paralelamente um movimento de denúncia dos problemas e desigualdades sociais do país. Com uma linguagem simples, esses poetas tinham como alvo de suas críticas a Ditadura Militar e a Guerra do Vietnã. Os principais representantes dessa tendência são: Fernando Gullar, Afonso Ávila, Thiago de Mello e Affonso Romano de Sant'Anna.
5. Poesia marginal: produzida durante a década de 70, era distribuída em bares, cinemas, teatros, revistas alternativas, entre outros meios. Considerada marginal por ser uma produção feita fora do circuito editorial tradicional. Muitas das vezes era o próprio autor que fazia a distribuição de suas obras. É ampla e diversificada. A obra que dá um parâmetro dessa produção é 26 poetas hoje (1976), organizada por Heloísa Buarque de Holanda, que reúne autores como Chacal, Ana Cristina César, Vera Pedrosa, Torquato Neto, Wally Salomão, Roberto Schwartz, entre outros.
Na prosa, destaca-se:
1. Prosa regionalista: retoma a tradição dos romances de 30 e em certos casos, com o engajamento político. Os principais autores são: Mário Palmério, Bernardo Élis, Ariano Suassuna, Márcio Souza, Milton Hatoum, Josué Montello, Dalcídio Jurandir e José Cândido de Carvalho.
2. Prosa política: ferramenta de denúncia política durante a ditadura e conta os problemas sociais do país. Destacam-se Ignácio de Loyola Brandão, Antônio Callado, Ivan Ângelo, Roberto Drummond, Márcio Souza e João Ubaldo Ribeiro.
3. Fantástico: prosa que trabalha com aquilo que é irreal, insólito, mas como metáfora de problemas do cotidiano. Os autores mais conhecidos são: Murilo Rubião, José J. Veiga, Moacyr Scliar e Lygia Fagundes Telles.
4. Prosa urbana: denúncia da realidade da vida das grandes cidades e seus problemas como: a violência, a solidão, o preconceito racial e a prostituição. Os autores mais conhecidos são: Rubem Fonseca, Dalton Trevisan, Luiz Vilela, João Antônio, Ignácio Loyola Brandão, Patrícia Melo e Sérgio Sant'Anna.
5. Prosa intimista - voltada para a sondagem psicológica e a crise existencial do indivíduo. Muitas das vezes o enredo é reduzido para se enfatizar os conflitos internos do personagem. Autores desse tipo de obra são: Lygia Fagundes Telles, Osman Lins, Nélida Piñon, Ivan Ângelo, Bernardo Carvalho, Autran Dourado, Adélia Prado e Raduan Nassar.
6. Prosa autobiográfica ou memorialista: obras feitas a partir de experiências traumáticas dos próprios autores como a ditadura militar, convivência com tribos, prisões ou doenças. Os principais autores são: Marcelo Rubens Paiva, Luis Alberto Mendes, Antônio Callado, Fernando Gabeira, Pedro Nava e Érico Veríssimo.
Vale também destacar as biografias e construções de momentos históricos e culturais também destacados por Rui Castro (que escreveu Chega de Saudade - valorizando a história da Bossa Nova), Ana Miranda (que romanceia a vida de grandes escritores como Gregório de Matos, Clarice Lispector e Gonçalves Dias, imitando os estilos dos mesmos e fazendo um panorama de suas respectivas épocas), Fernando Morais (que escreveu Chatô, o Rei do Brasil, sobre a vida de Assis Chateubriant), entre outros.
7. Romance Reportagem: com influência do New Journalism (tendência a misturar literatura e jornalismo), os autores contam histórias baseadas em fatos verídicos, mas na maioria das vezes, colocam elementos ficcionais. Como destaque, temos José Louzeiro, João Antônio e Agnaldo Silva.
8- Crônicas e contos: dois tipos de textos com grande popularidade, as crônicas e contos chamam sua atenção pela brevidade. Os cronistas mais famosos são Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Stanislaw Ponte Preta, Luís Fernando Veríssimo. Já no conto, quem se destaca é Moacyr Scliar, Dalton Trevisan, Luiz Vilela e Roberto Drummond.
Observação: Vale ainda destacar outros autores contemporâneos de qualidade como: Chico Buarque, André Sant'Anna (filho de Sérgio Sant'Anna), Paulo Leminski, José Paulo Paes, Caio Fernando Abreu, Domingos Pellegrini Jr, Paulo Henriques Brito, Marcelino Freire, Tony Belloto, Jorge Furtado, Adriana Falcão, Daniel Galera, Cristovão Tezza e Clarah Averbuck.
Referências→ Escola Viva. Programa de Pesquisa e Apoio Escolar. O Tesouro do Estudante. Multimídia Multicolor 2003. Nível Fundamental e Médio. Ensino Global.
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa. Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Redação e Literatura/ Marta Pontes - São Paulo: DCL, 2010.
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