domingo, 2 de agosto de 2015

Literatura Brasileira - Parnasianismo

Literatura Brasileira - Parnasianismo

Parnasianismo
Profissão de Fé

Não quero o Zeus Capitolino
Hercúleo e belo,
Talhar no mármore divino
Com o camartelo.

Que outro - não eu! - a pedra corte
Para, brutal,
Erguer de Atene o altivo porte
Descomunal.


Mais que esse vulto extraordinário,
Que assombra a vista,
Seduz-me um leve relicário
De fino artista.


Invejo o ourives quando escrevo:
Imito o amor.
Com que ele, em ouro, o auto-relevo
Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara
A pedra firo:
O alvo cristal, a pedra rara,
O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,
Sobre o papel
A pena, como em prata firme
Corre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,
A idéia veste:
Cinge-lhe ao corpo a ampla roupagem
Azul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, lima
A frase; e, enfim,
No verso de ouro engasta a rima,
Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,
Dobrada ao jeito
Do ourives, saia da oficina
Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,
Por tão subtil,
Possa o lavor lembrar de um vaso
De Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,
O olhar atento,
A trabalhar, longe de tudo
O pensamento.

Porque o escrever - tanta perícia,
Tanta requer,
Que oficio tal... nem há notícia
De outro qualquer.

Assim procedo. Minha pena
Segue esta norma,
Por te servir, Deusa serena,
Serena Forma!

Deusa! A onda vil, que se avoluma
De um torvo mar,
Deixa-a crescer; e o lodo e a espuma
Deixa-a rolar!

Blasfemo> em grita surda e horrendo
Ímpeto, o bando
Venha dos bárbaros crescendo,
Vociferando...

Deixa-o: que venha e uivando passe
- Bando feroz!
Não se te mude a cor da face
E o tom da voz!

Olha-os somente, armada e pronta,
Radiante e bela:
E, ao braço o escudo> a raiva afronta
Dessa procela!

Este que à frente vem, e o todo
Possui minaz
De um vândalo ou de um visigodo,
Cruel e audaz;

Este, que, de entre os mais, o vulto
Ferrenho alteia,
E, em jato, expele o amargo insulto
Que te enlameia:

É em vão que as forças cansa, e â luta
Se atira; é em vão
Que brande no ar a maça bruta
A bruta mão.

Não morrerás, Deusa sublime!
Do trono egrégio
Assistirás intacta ao crime
Do sacrilégio.

E, se morreres por ventura,
Possa eu morrer
Contigo, e a mesma noite escura
Nos envolver!

Ah! ver por terra, profanada,
A ara partida
E a Arte imortal aos pés calcada,
Prostituída!...

Ver derribar do eterno sólio
O Belo, e o som
Ouvir da queda do Acropólio,
Do Partenon!...

Sem sacerdote, a Crença morta
Sentir, e o susto
Ver, e o extermínio, entrando a porta
Do templo augusto!...

Ver esta língua, que cultivo,
Sem ouropéis,
Mirrada ao hálito nocivo
Dos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro,
Fique eu sozinho!
Que não encontre um só amparo
Em meu caminho!

Que a minha dor nem a um amigo
Inspire dó...
Mas, ah! que eu fique só contigo,
Contigo só!

Vive! que eu viverei servindo
Teu culto, e, obscuro,
Tuas custódias esculpindo
No ouro mais puro.

Celebrarei o teu oficio
No altar: porém,
Se inda é pequeno o sacrifício,
Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,
Porém tranqüilo,
Inda, ao cair, vibrando a lança,
Em prol do Estilo!
(Olavo Bilac)

A Arte pela Arte
• Monte Parnaso – Apolo e as Musas.
• Estética neoclássica.
• Perfeição formal.
• Equilíbrio.
• Beleza.
• Poesia Objetiva.
• Elevado nível vocabular.
• Racionalista.
• Temas Universais.
A Batalha do Parnaso
• Românticos versus parnasianos.
• Ampla divulgação do Realismo e do Parnasianismo.
• Fanfarras (1882), de Teófilo Dias – primeira publicação parnasiana no Brasil.
A Tríade Parnasiana
Olavo Bilac.
• Alberto de Oliveira.
• Raimundo Correia.
Outros autores:
• Vicente de Carvalho.
• Francisca Júlia.
Olavo Bilac
O Príncipe dos Poetas
Olavo Bilac (1865-1918)
Bilac (Olavo Brás dos Guimarães) ▬ Nasceu no Rio de Janeiro em 16 de dezembro de 1865 e faleceu a 28 de dezembro de 1918. Com a idade de 15 anos e por decreto especial, matriculou-se na faculdade de medicina do Rio de Janeiro, onde permaneceu durante cinco anos. Daí, para surpresa geral, seguiu para a Faculdade de Direito de São Paulo, onde permaneceu dois anos. Publicou nessa época, seu primeiro livro: “Poesias”. Voltando novamente ao Rio, publicou “O Caçador de Esmeraldas”. Daí por diante alcançou a fama, até ser cognominado o “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Escreveu, entre outras obras: “Contos Pátrios” e “Poesias Infantis”.
• Rio de Janeiro (1865-1918)
• Autor da letra do Hino à Bandeira.
• Ouvires da linguagem.
• Rebuscamento.
• “Profissão de Fé”.
• Temas também ligados ao Romantismo.

Raimundo Correia
(1859-1911)
• Pesquisa da Linguagem.
• Três fases distintas de sua poesia:
1)Fase romântica.
2)Fase parnasiana.
3)Fase pré-simbolista.

Alberto de Oliveira
(1857-1937)
• Preciosismo vocabular.
• Características românticas.
• Maior contenção sentimental.
• Um dos mais típicos poetas parnasianos.
Outras Características
• Comparação da poesia com as artes clássicas, principalmente com a escultura.
• Referências a elementos da mitologia grega e latina.
• Preferência por temas descritivos (cenas históricas, paisagens).
• Enfoque sensual da mulher (dava-se ênfase à descrição de suas características físicas).
• Habilidade na criação dos versos.
Parte 2 (Desenvolvimento)
Outros aspectos do Parnasianismo
• Rimas ricas: são evitadas palavras da mesma classe gramatical.
• Há uma ênfase das rimas do tipo ABAB para estrofes de quatro versos, porém também são usadas as rimas interpoladas.
Soneto: Marca do Classicismo
Valorização dos sonetos: composição dividida em duas estrofes de quatro versos e duas estrofes de três versos. Revelando, no entanto, a “chave” do texto no último verso.
Metrificação Rigorosa
• O número de sílabas poéticas deve ser o mesmo em cada verso, preferencialmente decassílabos ou alexandrinos, os mais utilizados no período. Ou então apresentar uma simetria constante, exemplo: primeiro verso de dez sílabas, segundo verso de seis sílabas, terceiro de dez sílabas, quarto com seis sílabas etc.
Temática Greco-Romana
• A estética é muito valorizada no Parnasianismo, mas, ainda assim, o texto precisa de um conteúdo.
• A temática abordada pelos parnasianos recupera temas da antiguidade clássica, características de sua história e sua mitologia: deuses, heróis, fatos lendários, personagens marcados na história e até mesmo objetos.
Cavalgamento ou Encadeamento Sintático (Enjambement)
• Ocorre quando o verso termina quanto a métrica (pois já se chegou à décima sílaba), mas não termina quanto à idéia, quanto ao conteúdo, que se encerra no verso seguinte (de baixo).
Cheguei, chegastes. Vinhas fadigada
e triste. E triste e fadigado eu vinha.
(Olavo Bilac)

• O prestígio dos poetas parnasianos, ao final do século XIX, fez de seu movimento a escola oficial das letras no país durante muito tempo.
• O Parnasianismo brasileiro, a despeito da grande influência que recebeu do Parnasianismo francês, não é uma exata reprodução deste, pois não obedece a mesma preocupação de objetividade, de cientificismo e de descrições realistas. Foge do sentimentalismo romântico, mas não exclui o subjetivismo.
• Olavo Bilac foi Jornalista e poeta, membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
• Criou a cadeira 15, cujo patrono é Gonçalves Dias.

“Vaso Chinês”
Estranho mimo aquele vaso! vi-o,
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármore luzidio,
Entre um leque e um começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.
(Alberto de Oliveira)

Características Parnasianas do Poema
-Soneto, composto por dois quartetos (estrofes com quatro versos) e dois tercetos (estrofes com três versos) – retorno aos moldes clássicos.
-Outro aspecto, que também demonstra essa preocupação com o culto à forma, diz respeito à posição das rimas, uma vez dispostas de forma cruzada ABAB.  
-Linguagem representada no poema como uma espécie de trabalho de ourivesaria, adornada, trabalhada, rica, voltada para um intenso preciosismo linguístico.
- O fato de a poesia não representar nenhuma representatividade para o poeta, ele mesmo, dotado de uma passividade nítida, parece se mostrar alheio, neutro a realidade a qual pinta, mesmo porque faz uso de um objeto (ora representado pelo vaso) para representar uma visão acerca do universo propriamente dito.
Realismo/Naturalismo/Parnasianismo
O Realismo e o Naturalismo, surgidos como reação ao sentimentalismo romântico, iniciaram-se em 1881, respectivamente, com a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e o mulato, de Aluísio Azevedo; manifestações poéticas do Parnasianismo já se faziam sentir desde 1870. Terminaram em 1893, com a publicação de Missal e Broquéis de Cruz e Sousa, que iniciaram o movimento simbolista. A data de término desses movimentos, no entanto, é puramente didática, uma vez que, até a segundo década do século XX e até posteriormente, é possível encontrar produções orientadas por todas essas estéticas.

O Parnasianismo
O Realismo, na poesia, chamou-se Parnasianismo. Os poetas parnasianos adotam a teoria da “arte pela arte” e deixam transparecer, em suas obras, uma espécie de impassividade, de indiferença moral.
Nossos principais parnasianos foram Olavo Bilac, Raimundo Correia e Alberto de Oliveira. De menor destaque, mas expressivo, foi Vicente de Carvalho, “O Poeta do Mar”.
Principais Autores e Obras dessa Época
• Alberto de Oliveira
Canções Românticas, Meridionais, Sonetos e Poemas, Versos e Rimas, Livro de Ema, Ramo de Árvore.
Raimundo Correia
Primeiros Sonhos, Sinfonias, Versos e Versões, Aleluias.
Olavo Bilac
Panóplias, Via-Láctea, Sarça de Fogo, Alma Inquieta, As Virgens, O Caçador de Esmeraldas, Tarde, Tratado de Versificação.
Vicente de Carvalho
Ardentias, Relicário, Rosa, Rosa de amor, Poemas e Canções.

Parnasianismo (1882-1893)
O Parnasianismo era um movimento que tentava combater os excessos de sentimentalismo do Romantismo. Os autores dessa época valorizavam a arte como ofício, buscando também uma universalidade. O nome da escola é inspirado no Monte Parnaso, na Grécia Antiga, consagrado a Apolo, deus da poesia, das artes, da medicina e dos rebanhos.
As principais características do Parnasianismo são: aproximação entre literatura e artes plásticas, gosto por métricas (na maioria das vezes decassílabos), perfeição formal (rimas raras e chaves de ouro), de cunho descritivo, usos de temas clássicos, objetividade, impessoalidade e gosto por temas universais (como a beleza, a vaidade, a poesia). O lema central parnasiano era “arte pela arte”.
No Brasil o Parnasianismo aconteceu paralelamente à prosa realista/naturalista. A primeira publicação foi Fanfarras, de Teófilo Dias, de 1882.
Destacam-se no Brasil a tríade parnasiana: Olavo Bilac (considerado “o príncipe dos poetas”), Raimundo Correia e Alberto de Oliveira.

Monte Parnaso (mitologia): local mítico, morada do deus grego Apolo e das musas das artes. Fonte de espiração para a poesia e as artes em geral.
Parnaso (Renascença): morada simbólica dos poetas, agremiação de poetas.

Parnasianismo: As Antologias
• 1882: Fanfarras, de Teófilo Dias.
• 1883: Raimundo Correia publica Sinfonias.
• 1884: Alberto de Oliveira publica Meridionais.
• 1888: Olavo Bilac publica Poesias; Vicente de Carvalho publica Relicário.

Parnasianismo: Características
• Parnasianismo: movimento literário "oficial" da República.
• Estilo de vida do escritor brasileiro: burocracia/imprensa-boêmia.
• Objetividade no tratamento dos temas.

Parnasianismo: Características Gerais
• Culto à forma poética clássica (o soneto, recuperado, será a forma comum).
• Precisão no uso da língua e de imagens.
• Lirismo sem exageros românticos.
• Temáticas sobre a natureza (reificação).

Parnasianismo: Temáticas Nacionais
• Natureza sensacional.
• Linguagem Melodiosa e inusitada.
• Povo, retratado entre o selvagem e o civilizado.
• Matérias: eróticas, bélicas, infantis, mitológicas etc. 





Referências→ Apostila Faculdade Anhanguera de data: 18/06/2014.
Apostila Faculdade Anhanguera de data: 24/01/2014.
Escola Viva, Programa de Pesquisa e Apoio Escolar, O Tesouro do Estudante, Multimídia Multicolor 2003, Nível Fundamental e Médio. Ensino Global
Sistema de Ensino IBEP. Apostila Língua Portuguesa. Antônio de Siqueira e Silva• Rafael Bertolin
Pontes, Marta. Minimanual de Radação e Literatura / Marta Pontes. – São Paulo: DCL, 2010.
Biblio.com.br. A Biblioteca Nacional de Literatura. Disponível em: http://www.biblio.com.br/defaultz.asp?link=http://www.biblio.com.br/conteudo/OlavoBilac/profissaodefe.htm. Acesso em: 02 Ago de 2015.

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